Ministra não consegue ser atendida no 180; o disque-denúncia da mulher

Começou mal o serviço da Central de Atendimento à Mulher, que permite às mulheres vítimas de violência fazerem denúncias pelo telefone 180 em todo o País. Em cerimônia realizada hoje (25) no auditório do Ministério do Planejamento, em Brasília, coube à ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, fazer a primeira ligação para o serviço. Diante de uma platéia constrangida, ela não conseguiu ser atendida. A ministra alegou que a dificuldade em ser atendida foi causada pelo interesse das mulheres em falar com as oito atendentes capacitadas pela secretaria. Cada funcionária do serviço recebe um salário de R$ 800.

Segundo Nilcéa, o fato de o serviço estar num período experimental provocou um congestionamento nas linhas telefônicas. Por coincidência, ou não, todas as ligações feitas pelo Grupo Estado, para testar o serviço em São Paulo, também não conseguiram ser completadas. Não passaram do "para denúncia de violência contra mulher, disque 1; (…) para sugestões, disque 5 (…). Sua ligação é muito importante. (…) Tente mais tarde".

Serão 90 dias de fase experimental. Durante os três meses, a central funcionará das 7 horas às 18h40, de segunda à sexta-feira, exceto em feriados nacionais. Depois desse período, o governo vai ampliar o horário de funcionamento para que a central cubra o atendimento 24 horas em todos os dias da semana.

De acordo com Nilcéa, essa ampliação será importante, já que, pelos dados estatísticos, atos de violência contra mulher são praticados, na maioria das vezes, à noite e nos fins de semana. Na cerimônia, que contou com a participação dos ministros Paulo Bernardo (Planejamento), Saraiva Felipe (Saúde), do secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e da primeira-dama Marisa Letícia, Nilcéa disse que tem certeza de que vai conseguir sensibilizar o governo para que destine mais recursos para ampliar o atendimento. Nilcéa avalia que esse serviço é fundamental para que o governo tenha a dimensão exata do número de casos de violência.

Segundo a ministro, as estatísticas sobre violência contra a mulher são "subdimensionadas", já que muitas mulheres desistem de ir às delegacias para denunciar a prática de violência. Estudo divulgado ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que pelo menos 20% das mulheres agredidas jamais levou o caso adiante. Poucas contam à polícia, salvo em casos extremos.

A ministra acredita que 200 ligações por dia devem ser atendidas por estudantes e profissionais de psicologia. O lançamento da central foi marcado para o início da campanha Sua Vida Recomeça Quando a Violência Termina.

De acordo com estatísticas do governo, 11% das brasileiras já foram vítimas de violência. Os dados foram coletados pela Fundação Perseu Abramo numa pesquisa feita em 2001 com mulheres com mais de 10 anos de idade, aproximadamente. Naquele ano, o número de mulheres na faixa etária estudada era de 61,5 milhões.

No ano passado, mais de 189 mil brasileiras com mais de 10 anos foram internadas em hospitais por problemas ligados à violência. Muitos dos casos de violência são registrados em hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo Saraiva Felipe. Ele disse que as vítimas chegam aos hospitais com fraturas, luxações e traumatismos em diversas partes do corpo.

A ligação feita à central será gratuita e os dados fornecidos pelas vítimas serão registrados em caráter sigiloso. A mulher que ligar – e conseguir ser atendida – será orientada a se proteger do agressor e a procurar as delegacias especiais, defensorias públicas, postos de saúde, instituto médico legal (em caso de estupro) e postos de saúde.

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