O Ministério Público (MP) de São Paulo decidiu intimar o publicitário Duda Mendonça para depor no inquérito civil que investiga suposto enriquecimento ilícito do ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996). Publicitário das campanhas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, e de Maluf, em 1998, Duda é citado na investigação como beneficiário de valores que não teriam sido declarados.
A informação sobre a convocação do publicitário foi divulgada hoje pelo promotor de Justiça da Cidadania Sílvio Antônio Marques, que rastreia a origem de US$ 5,88 milhões que teriam sido transferidos para uma conta de Duda no Citibank de Nova York em 1998.
Segundo o doleiro Vivaldo Alves, o "Birigüi", o dinheiro foi repassado para Duda a mando de Flávio Maluf, filho mais velho do ex-prefeito. Foram sete transferências, de US$ 840 mil cada, totalizando US$ 5,88 milhões que o publicitário captou por meio da conta eleven, da Heritage Finance Trust – offshore da qual Duda seria o beneficiário.
A Promotoria suspeita que Duda teria armado, ainda na campanha de 1998, quando trabalhou para Maluf – então candidato ao governo do Estado -, um esquema para recebimento de valores diretamente no exterior, a fim de escapar da tributação brasileira. Essa suspeita ganhou força a partir do depoimento que o próprio Duda prestou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, em agosto, quando admitiu ter aberto a conta Dusseldorf em paraíso fiscal para receber US$ 11 milhões relativos à campanha que fez para Lula, em 2002.
Os pagamentos para Duda teriam sido feitos pela conta Chanani, operada pelo doleiro Birigüi no Safra National Bank de Nova York. A Chanani, que depois chamou Ugly River e Madison Hill, foi aberta no segundo semestre de 1997 e movimentou US$ 161 milhões. Maluf teria sido o principal beneficiário. O ex-prefeito nega.
"Birigüi" declarou ao MP que James Carville, publicitário que trabalhou para o ex-presidente americano Bill Clinton, recebeu três remessas da Chanani. Segundo o doleiro, Flávio Maluf revelou que Carville prestou serviços ao pai durante a campanha para governador de São Paulo, em 1998. Ele disse que Flávio lhe contou os detalhes sobre a conta da Heritage Finance, atribuída a Duda.
"O Flávio disse que a Heritage é uma offshore que pertence ao Duda e ao Biondi", afirmou "Birigüi". Ao MP, o publicitário Nelson Biondi negou, enfaticamente, ter recebido no exterior. O doleiro admitiu "nunca ter conversado" com Duda e Biondi.
"Absolutamente, não é verdade que Duda tenha recebido desse ‘Birigüi’", reagiu o criminalista Tales Castelo Branco, que atua na defesa do publicitário. "Tão logo seja intimado, Duda vai comparecer para prestar os esclarecimentos devidos." Castelo Branco anotou que o publicitário "tem o hábito de dizer a verdade, haja vista que, espontaneamente, admitiu a conta Dusseldorf à CPI".
O promotor também decidiu intimar Maria Aparecida Feitosa Coutinho Torres, sogra de Flávio Maluf. O doleiro afirmou ter feito depósito para ela no montante de US$ 500 mil, em 23 de dezembro de 1998.