Os militares acreditam que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, vá receber neste domingo uma enorme votação nas urnas localizadas em áreas residenciais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, em todos os pontos do País, a exemplo do que já aconteceu no primeiro turno. Isso é entendido como uma clara demonstração da esperança que nutrem em relação à melhoria da situação das Forças Armadas. No Setor Militar Urbano, em Brasília, no primeiro turno, Lula obteve 45,62% dos votos, ficando em 1º lugar, e o candidato tucano, José Serra, último colocado, alcançou apenas 10,68% dos votantes.
Resultado semelhante foi obtido em outras áreas onde residem militares no Rio de Janeiro e em São Paulo, de acordo com dados que circulavam extra-oficialmente nas organizações militares. Para o segundo turno, a expectativa é de que Lula, em alguns locais, como o SMU, chegue a 70% da preferência dos eleitores.
Esta semana, durante o coquetel na Base Aérea de Brasília na cerimônia de comemoração do Dia do Aviador, o segundo turno das eleições nos Estados e a iminente vitória de Lula foi tema dominante das conversas informais. Até o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a fazer uma confidência, conforme relataram militares, ao ser indagado por um dos presentes qual seria a possibilidade da uma reviravolta dos números, em favor de Serra. ?Nenhuma?, teria sido a resposta do presidente, ouvida atentamente por oficiais-generais que estavam próximo a ele.
O comentário mais ouvido entre os presentes foi traduzido pelo ex-ministro da Aeronáutica, brigadeiro Mauro Gandra, um dos homenageados na cerimônia, que acabou provocando risos entre as autoridades em um descontraído bate-papo. O brigadeiro Gandra lembrou que, há 13 anos, quando Lula disputou a Presidência com Fernando Collor de Mello, ele mesmo chegou a declarar que, se o petista vencesse as eleições, deixaria o serviço ativo e passaria para a reserva porque se recusava a bater continência para ele.
Agora, comentou rindo, não só votou em Lula no primeiro turno, como vai repetir o voto no segundo e fazia questão de alardear sua opção, com satisfação e esperança. Ao ser perguntado sobre quem mudou, o ex-ministro desabafou: ?mudamos os dois, o partido e o País?.
Apesar de o sentimento geral ser de esperança em relação ao futuro das Forças Armadas, já que os militares consideravam o resultado irreversível e a maioria classificava como ?catastrófica? a possibilidade de José Serra ser o eleito, não faltou quem falasse da preocupação que muitos oficiais-generais têm com a ala radical do PT.
Algumas autoridades militares acreditam que essa ala, se não continuar contida pela liderança do partido, possa vir a atrapalhar a administração petista, como já aconteceu em alguns Estados e municípios onde o partido governa.
A preferência inicial dos militares era Ciro Gomes, o primeiro a se interessar em ouvir a categoria, em uma reunião no Clube Militar, no Rio de Janeiro, onde fez diversas promessas. Com a derrocada do candidato do PPS, os militares passaram a apoiar Lula, sem se preocupar em esconder suas preferências.