Meu candidato

Não é assunto pessoal que, obviamente, não se justificaria estar aqui. Nem se trata de vender um determinado candidato. O que segue é uma observação crítica construtiva, do meu ponto de vista, embora com justificadas razões e um grande desejo de aperfeiçoamento, das nossas práticas pré-eleitorais a que os candidatos submetem-se. O título e a forma do texto são apenas um modo de fazê-la.

O meu candidato à Presidência da República não vai a debates. Sua dignidade não lhe permite a exposição circense que neles se vê. Ele não está para fazer a e receber perguntas provocadoras e insultantes de outros candidatos. Ele não está para divertir os que desejam assistir ao constrangimento alheio, mesmo a pretexto de que procuram se informar. E não adianta dizer-lhe que, se não vai, dá a impressão de que está fugindo.

Ele comparece a entrevistas, coletivas ou individuais, responde a perguntas esclarecedoras, mas não responde a impertinências.

Aceita convites de grupos de pessoas interessadas em conhecer suas idéias e seus propósitos. E compare às reuniões, salvo motivo de força maior, na hora marcada. Procura, então, dialogar com os participantes; conhecer seus sentimentos, seus pensamentos e suas reivindicações que se insiram nas necessidades públicas.

Faz discursos, apresentando sua plataforma de governo. Mas, ao invés de dizer que fará isso e aquilo, dirá que pretende fazer isso e aquilo. Não é a melhor forma pragmática de vender sua candidatura, porém é a mais honesta, porque ele sabe que os meios são escassos e muito do que um presidente deseja fazer depende de decisão de outros agentes. Sobretudo dos parlamentares.

Ele não aceita a armação de colocarem crianças pelo seu caminho para que as suspenda no colo e as beije, enquanto o fotografam. Seu amor às crianças é verdadeiro e não ato de exibição eleitoreira.

Ele não vive de riso aberto para que o achem simpático. Os malandros são sempre risonhos, simpáticos, de boa aparência e boa lábia e com isso enganam os que se deixam levar por esses exteriores. Ele é inerentemente grave, embora não permanentemente sério. A seriedade permanente é uma característica dos animais (as hienas à parte). Aprecia o humor, mas não faz ironia a não ser sobre si mesmo.

Ele é educado. Mais escuta do que fala. E fala manso. Não se exibe com reações descontroladas. Antes, até procura amortecer os efeitos dos atos contundentes, mesmo entre os seus associados. É comedido. Pratica a justa medida que aprendeu lendo os gregos. Decide devagar, procurando informar-se e sopesando todos os fatores envolvidos nas questões.

Tem verdadeiro espírito público. Preparou-se para ser um estadista. Exerceu algumas funções públicas onde familiarizou-se com as complicações do orçamento e os procedimentos burocráticos e, apesar de um tempo ter trabalhado na iniciativa privada, onde aprendeu muito sobre negociação, e processo decisório, sua atenção nunca se desassociou dos problemas do País.

É bom motorista, mas, jamais aceitaria pilotar um avião.. Tem um justo escrúpulo de que não pode aceitar uma missão para a qual não esteja preparado.

É um candidato difícil de ser emplacado com essas reservas burguesas. Recusa-se até a pequenas flexibilidades como fazer escova no cabelo antes de aparecer na televisão. Não aceitou a sugestão de amigos para que contratassem o Dadá, um sujeito capaz de dar nó em pingo d?água, para ser seu marqueteiro, e saiu-se com esta: “O candidato, se não é autêntico, não presta”.

J. Ribamar G. Ferreira é advogado e professor aposentadoda UFPR.

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