Autoridades do governo britânico aprovaram a metodologia usada por acadêmicos que considerou que mais de 600.000 iraquianos já foram mortos na violência desatada pela invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003, informou hoje a BBC de Londres. A rede divulgou que documentos obtidos com base na lei de liberdade de imprensa mostraram que assessores concluíram que o criticado estudo publicado no jornal médico The Lancet em outubro utilizou métodos consistentes. O gabinete do primeiro-ministro Tony Blair entretanto, rejeitou suas conclusões.
Segundo o estudo, promovido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore, e da Universidade Al Mustansiriya, de Bagdá, cerca de 655.000 iraquianos morreram em condições que não seriam esperadas caso não houvesse a invasão de março de 2003. O estudo estima que, dessas mortes, 601.027 foram fruto da violência. Os pesquisadores, cientes das dificuldades em se fazer tais tipo de extrapolação, disseram que estavam 95% seguros de que o número verdadeiro estaria entre 392.979 e 942.636 mortes.
A conclusão, baseada em entrevistas com famílias em todo o Iraque, foi contestada alguns especialistas, e rejeitada pelos governos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. O presidente dos EUA, George W. Bush, disse que não o considerava "um relatório verossímil" e o porta-voz oficial de Blair afirmou que o estudo extrapolou uma amostra não representativa da população.
Entretanto, num e-mail obtido pela BBC World Service, uma autoridade do governo – cujo nome foi borrado – diz que "a metodologia usada pela pesquisa não pode ser jogada no lixo, ela é uma forma testada e provada de medir a mortalidade em zonas de guerra". Em outro ponto, o consultor científico do Ministério da Defesa da Grã-Bretanha Roy Anderson descreveu os métodos empregados no estudo como "robustos" e "próximos das melhores práticas".
De acordo com um memorando da BBC, ele recomenda aos funcionários do governo que tenham "cautela ao criticar publicamente o documento." É assumidamente difícil calcular o número de mortos no convulsionado Iraque, e existem estimativas bastante conflitantes. A Missão de Assistência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Iraque calculou que 34.452 civis iraquianos foram mortos na violência somente em 2006, enquanto que para o governo de Bagdá foram 12.357. O grupo Iraq Body Count estima que entre 59.000 e 65.000 civis morreram desde 2003. A contagem do grupo baseia-se somente em relatos publicados pela imprensa.