Os ventos atuais da política brasileira estão sendo pródigos na inspiração de motivos para reflexão. Gente que fazia oposição sistemática a tudo e a todos passou, repentinamente, para o outro lado; gente que só fazia dizer amém, hoje procura pretexto para justificar a contrariedade. O óbvio é ululante: nem tudo, pelo que se percebe agora, era questão de princípios – nem para quem era do contra, nem para quem era a favor. Que a lição sirva para a construção dos caminhos futuros.
O momento não passou despercebido do presidente da Câmara Federal e governador eleito de Minas Gerais, deputado Aécio Neves. No primeiro embate havido nas dependências do Congresso entre representantes de setores do funcionalismo público em busca de aumento salarial, geralmente cutistas, e parlamentares do Partido dos Trabalhadores, agora emparedados pelo empenho na tarefa de aliviar a carga para o futuro governo, Aécio recorreu à poesia para um pequeno laivo de filosofia: prefiro ser – disse ele lembrando Raul Seixas e Paulo Coelho em conhecida música – essa metamorfose ambulante do que ter a velha opinião formada sobre tudo.
É uma grande tirada. E justifica, num momento muito especial e rico da República, um certo cuidado que todo político precisa ter ao tomar posições que são movidas por interesses postiços, como a oposição pela oposição ou a defesa por puxa-saquismo ou mero oportunismo de momento. Para não ter que mudar demais amanhã, é melhor ser razoável e transigente hoje. Louve-se, no caso, o senador eleito Paulo Paim. Não é pelo fato de seu partido estar na iminência de assumir o Planalto que ele haverá de mudar seu convencimento acerca do valor do salário mínimo. Princípio é princípio. Pelo menos assim avisou e assim garante que agirá.
Para frustração de eleitores e militantes, o exemplo de Paim não reflete exatamente o que está a acontecer no novo teatro do Congresso Nacional. Gente que se elegeu com o discurso de oposição, mais rápido do que era de se imaginar, tomou de empréstimo o discurso governista surrado nas urnas para a defesa dos interesses do Estado, nem sempre alinhados àqueles da cidadania. Por enquanto é apenas uma tendência manifestada em coisas, felizmente, menores. Mas é sintomática a orientação geral à bancada petista para que autores de projetos incômodos, pelo menos no campo orçamentário, retirem suas propostas antes que a oposição – também tomando de empréstimo um discurso postiço – comece a inevitável cobrança.
Grandes mudanças, preconizadas em recheadas fundamentações e justificativas, seriam, assim, facilmente frustradas? Ou tudo não passava de mero argumento? Acorda-se o PT sobre algumas verdades que antes não via ou não queria ver, assim como os partidos que passam para a oposição, como o PSDB, também aprenderam que o governo – seja ele quem for – merece a confiança e o apoio naquilo que acerta em benefício do povo. Nesse contexto, cresce em importância o que disse o presidente Fernando Henrique Cardoso logo após as eleições em que foi fragorosamente derrotado: a alternância no poder é uma coisa muito salutar para a higidez política do País.
Grandes mudanças, preconizadas em recheadas fundamentações e justificativas, poderão, assim, ser frustradas.