?Mestre insigne da alta matemática/ sem esquecer também a astronomia/ sabe aliar a teoria à prática/ e ensina com talento e simpatia/ na sua prosa rica, pura e atica/ que numa equação pode haver poesia/?. João Manuel Simões

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Busquei, incessantemente, um título para este escrito, tão variada foi a atividade do homenageado.

Eis, senão, que deparei com os ricos e apropriados versos do poeta maior.

Na realidade, Nelson de Lucca é o ?mestre insigne?, tal a dedicação ao magistério, no afã de melhorar e aumentar seus conhecimentos e transmiti-los aos seus discípulos nos cinqüenta e dois anos, um mês e dezesseis dias que, com eles, conviveu.

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Originário de família simples, com parcos recursos, contraindo núpcias bem cedo com a sua adorável e inesquecível Djanira, sobrevindo os filhos, lutou arduamente para sobreviver e prover a vida de seus familiares.

Dos seus, privo da amizade do eminente procurador de Justiça, Milton, figura querida nos meios jurídicos e já usufruindo merecida aposentadoria.

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Ainda estudante de engenharia, Nelson Delucca foi auxiliar de ensino, depois assistente e professor adjunto do distinguido mestre Valdomiro Augusto Teixeira de Freitas, na cátedra de ?Mecânica Racional Precedida de Elementos de Cálculo Vetorial?, até tornar-se titular.

Lecionou, ainda, na antiga Escola dos Oficiais Especialistas e de Infantaria da Guarda e, também, na Faculdade de Filosofia de Curitiba, as matérias de ?Estatística Geral e Aplicada?, ?Mecânica Celeste? e ?Mecânica Racional?.

Inúmeros cursos ministrou, sempre tendo por mote a matemática, a engenharia, com seguras incursões na astronáutica, como chegou a aperfeiçoar seus conhecimentos didáticos, mercê de bolsas de estudos, até no exterior.

Mas, não só em tal área profissional que se projetou Nelson de Lucca.

Lembro-me, com deslubramento, da palestra, rica e substanciosa, em plena Academia de Cultura de Curitiba, em agosto de 1995, a convite de Ivo Arzua Pereira, sobre a vida e obra de Santo Agostinho, que a todos encantou, quando, então, culminou: ?Esquadrinhei a vida e a obra desse ?Poeta da Verdade?, dono de um estilo que é ?a harmonia total da forma e do conteúdo?, segundo o papa Paulo VI, desse incansável ?Defensor da Fé?, contra toda espécie de desvios, desse sumo ?doutor da Igreja Latina?, desse ?bispo e confessor?, desse escritor infatigável e multímodo, desse ?mestre da oração?, que foi (e também, que é, porque vive nas suas obras), Aurelius Augustinus, o afável e inolvidável ?bispo de Hipona?.

Tão extraordinária foi a preleição, que não me contive e adquiri algumas das 232 obras, como Confissões, Cidade de Deus, Sermões.

Mais tarde, embevecido, conheci o esboço biográfico de ?monsenhor Luiz Gonzaga Miele?, principal fundador do vetusto ?Círculo de Estudos Bandeirantes?, glória da cultura paranaense, onde é realçado o empenho do ilustre sacerdote na defesa do ?Jus Christi?.

Inúmeras outras palestras e trabalhos legou-nos Nelson de Lucca, que, de alguns anos para cá, enriquece o Centro de Letras do Paraná.

Talvez, a mais destacada obra científica-literária seja A astronomia e seus grandes pioneiros, onde aponta que, ?…já no século II dC, encontramos em Luciano da Samosata uma narrativa satírica de uma viagem à Lua, sendo que, desde então, tais narrativas se tornaram cada vez mais freqüentes. E o nosso século começa a transformar este sonho numa possibilidade concreta?.

Não é sem razão que o imortal Túlio Vargas, na antiga coluna ?Porta-Retrato?, assim proclamava: ?Ele desbravou e difundiu conhecimentos de astronáutica, numa atitude individual a um só tempo motivadora. Senso lógico, organizacional e estético, assiste-lhe uma tendência inata para a visão das coisas, dons que procurou sempre explorar de modo construtivo?.

Porém, o que distingue, sobremodo, Nelson de Lucca é a sua extrema humildade, que o faz proclamar-se ?um autodidata dedicado?.

Como é possível, se chegou a ser agraciado com o título de ?Professor Emérico da Universidade Federal do Paraná?, ele, que estudou com carência de recursos, mas dedicação e ideal, que sempre tinha no bolso um resumo de informações, que, vez por outra, tirava para fixar idéias e meditar sobre elas?

Impossível, neste modesto escrito, detalhar a vida e a obra do notável curitibano que, no albor dos seus 84 anos desfruta de invejável higidez, inobstante traga nos olhos o timbre da saudade dos anos de amoroso convívio com sua idolatrada esposa, que, na eternidade, por ele ora.

Padrão de dignidade, acolhedor e lhano com todos, Nelson de Lucca é o que de melhor o Paraná guarda!

Luís Renato Pedroso – é desembargador jubilado e presidente do Centro de Letras do Paraná.