O brasileiro Josué de Castro, que dirigiu a FAO, organismo da ONU encarregado da alimentação, escreveu que “a mesa do pobre é parca, mas a cama é farta”. Referia-se ao fato de as famílias mais pobres, onde a comida falta à mesa, paradoxalmente têm grande número de filhos, mais bocas para alimentar. O fenômeno era e ainda é visível em diversas regiões do País, em especial no Nordeste. E existe também nas favelas das grandes cidades, onde faltam empregos, casas, assistência à saúde, segurança e, é óbvio, comida. Mas não faltam crianças em profusão. Josué buscava explicações científicas para o fenômeno e não faltaram.
Costumava-se dizer, numa grosseira brincadeira, que o pobre tinha mais filhos porque não tinha televisão para poder se distrair. Hoje, sabe-se que o pobre gera mais por motivos que a ciência explica. O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em pesquisa que acaba de divulgar, revela que o Brasil já está com uma população da ordem de 182 milhões de habitantes, quase o dobro das 93 milhões de pessoas que tinha em 1970. Em 2050, a população brasileira poderá alcançar 259,8 milhões de habitantes, ficando na sexta posição no ranking mundial. Perderá, apenas, para a Índia, China, Estados Unidos, Paquistão e Indonésia.
O estudo, que se denomina “Projeção da População do Brasil de 1980 a 2050”, revela que desde a década de 60 a taxa de crescimento da população brasileira vem sofrendo consecutivos declínios, “intensificando-se juntamente com as quedas mais pronunciadas de fecundidade. E estamos ficando mais velhos. Logo, deixaremos de ser uma nação jovem para sermos um País de velhos e jovens, em números parecidos, aqueles tendendo a superar estes.
Explicava-se, nos tempos de Josué de Castro, que a grande fecundidade dos pobres brasileiros devia-se, também, à falta de instrução, de conhecimento de meios anticonceptivos disponíveis.
Isto continua acontecendo em certa medida, embora as campanhas por planejamento familiar já venham alcançando, via meios de comunicação e constantes campanhas, populações que antes não tinham acesso a tais conhecimentos e meios anticonceptivos. Nos centros urbanos, grandes ou mesmo médios e pequenos, não são mais só os ricos que cuidam de planejar suas famílias. Esse planejamento já se dá entre pessoas da classe média, inclusive baixa, e entre os casais de maior nível de instrução, mesmo que não sejam de maior nível de ganhos.
Os jovens casais de hoje querem filhos só mais tarde e não mais logo nos primeiros tempos de casamento. E os querem poucos, se possível um ou no máximo dois. Por quê?
Adicionaríamos aos fatores que inibem as taxas de natalidade as dificuldades em criar uma família, que aumentam dia a dia. Os baixos salários, a necessidade de os casais, homem e mulher, estudarem e batalharem por empregos. E a falta de empregos ou o medo de não tê-los, quando novas bocas estiverem dependendo dos ganhos parcos ou que não vêm. Os fatores econômicos e as incertezas do futuro colaboram para a baixa nas taxas de natalidade. E o crescimento demográfico que anuncia o Brasil como um país de 182 milhões de pessoas choca-se com o saudado aumento do PIB. Um país populoso, o sexto no ranking mundial, ou cresce a níveis muito mais altos ou terá de dividir o seu aparente grande PIB com muito mais gente, o que dará uma renda per capita reveladora de uma nação de pobres.