O Mercosul quer chegar a um acordo de livre comércio com o Marrocos. O primeiro passo ocorrerá amanhã, durante reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o rei de Marrocos, Mohammed VI, quando será assinado um acordo que dará as linhas gerais da negociação. O Brasil pretende ampliar suas vendas de alimentos para aquele país, que é grande importador e chega a comprar produtos brasileiros que haviam sido vendidos originalmente para a Europa.
O rei do Marrocos, que chega ao País amanhã, e o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, que desembarca no Rio sábado e vem a Brasília na segunda-feira, completam a agenda de um dos meses mais movimentados da história do Itamaraty. O desfile de visitantes começou no dia 11, quando chegou ao País o presidente da China, Hu Jintao. Em seguida, vieram o presidente da Coréia do Sul, Roh Moo-hyun, do Vietnã, Tran Duc Luong, além do ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Jochka Fischer. Nesta semana, já estiveram em Brasília o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro do Canadá, Paul Martin.
Mohammed VI e Pervez Musharraf, porém, vêm ao Brasil por motivos distintos dos demais, que vieram para uma reunião em Santiago, no Chile, e passaram por Brasília na ida ou na volta. O rei do Marrocos está tentando uma aproximação com países do Atlântico e estava hoje no México. Depois do Brasil, ele ainda irá ao Peru, ao Chile e à Argentina. O presidente do Paquistão tenta dar visibilidade internacional a seu país, que ficou isolado nos últimos anos devido a conflitos internos e agora tenta retomar os rumos da prosperidade econômica.
"A visita de Sua Majestade Mohammed VI ocorre num momento importante, em que o Brasil faz uma política de aproximação tanto com países da África quanto com países árabes" disse o diretor do Departamento da África do Itamaraty, embaixador Pedro Motta Pinto Coelho. O acordo abrirá espaço para negociar, numa primeira etapa, um entendimento de preferências tarifárias que poderá ficar pronto em meados do próximo ano, disse o embaixador do Brasil naquele país, Carlos Alberto Simas Magalhães. Esse acordo poderá evoluir para a instalação de uma área de livre comércio. A troca de produtos entre Brasil e Marrocos soma pouco mais de US$ 500 milhões ao ano.
Segundo Simas, o comércio com o Marrocos pode ser uma porta de entrada para produtos brasileiros naquela região. Além de comércio, os dois países pretendem cooperar na área de manejo de recursos hídricos e agricultura. A tecnologia desenvolvida pela Embrapa para cultivo do semi-árido brasileiro poderá ser útil para o Marrocos. Os dois países também assinarão um acordo na área de turismo e outro treinamento de diplomatas.
Com o Paquistão, o comércio é muito pequeno: algo como US$ 50 milhões ao ano, resultado em parte de uma economia fechada. O país, que esteve à beira da convulsão social há alguns anos, desde 2001 tem crescido a taxas próximas a 6% ao ano, disse o diretor do departamento de Ásia e Oceania do Itamaraty, embaixador Edmundo Fujita. Há, portanto, toda uma relação comercial a ser construída. Na próxima terça-feira, Pervez Musharraf e uma missão de empresários paquistaneses estarão em São Paulo para explorar possibilidades de negócios.
Segundo o embaixador do Brasil no Paquistão, Fausto Godoy, o petróleo é uma área promissora a ser explorada. O Paquistão tem reservas que nunca foram medidas com exatidão, mas estão em sua maior parte no mar, em águas profundas. É justamente essa a especialidade da Petrobras.
Outra oportunidade a ser explorada pelo Brasil é o de automação bancária. O Paquistão está começando a privatizar seu sistema financeiro. Existe, ainda, a possibilidade de cooperação na área do etanol, pois o Paquistão produz cana-de-açúcar e o Brasil está interessado em ampliar a rede de fornecedores mundiais do etanol. Os paquistaneses já manifestaram interesse em associações com o Brasil na pesquisa do algodão. Eles são especialistas em produzir tecidos com algodão de fibra longa, enquanto a tecnologia brasileira se baseia no algodão de fibra curta.