Mercado reduz para 2,66% a projeção de alta do PIB

Brasília – Os investidores do mercado financeiro reduziram suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 3% para 2,66% em pesquisa semanal divulgada hoje (5) pelo Banco Central (BC). "Como o PIB do terceiro trimestre do ano ficou muito abaixo do esperado, seria normal que os analistas começassem a rever para baixo suas estimativas de crescimento", disse o economista José Márcio Camargo.

O ex-diretor do BC Carlos Eduardo de Freitas discorda, no entanto, do aumento do pessimismo em relação ao comportamento do PIB neste ano. "Acho que ainda é cedo para termos certeza de que o PIB terá neste ano um crescimento abaixo dos 3%", disse. Ele procurou ressaltar que a queda de 1,2% divulgada na semana passada pelo IBGE ainda é um dado preliminar. "Este porcentual pode ser revisado como foi em outras ocasiões", comentou o ex-diretor que disse ter dúvidas sobre o tamanho da contração do PIB no terceiro trimestre. "Não há dúvida de que a economia está desacelerando. Mas não vejo indicadores que confirmem uma queda tão abrupta como esses 1,2%."

A queda das previsões de crescimento para este ano não chegaram, no entanto, a contaminar as estimativas para 2006. Os números da pesquisa continuaram a apontar para a possibilidade de a economia crescer no próximo ano a uma taxa de 3,50%. "É possível que a taxa fique entre 3,50% e 4%", disse Camargo.

A taxa de crescimento modesto, porém, não deverá refletir em uma queda mais rápida dos juros. A pesquisa do BC mostra que os analistas apostam em um corte de apenas 0,5 ponto porcentual em dezembro. Ao mesmo tempo, eles esperam uma inflação mais elevada. A estimativa do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano subiu de 5,59% para 5,63%.

José Márcio Camargo ressalta que, no próximo ano, o BC terá mais espaço para reduzir os juros em função do cenário mais positivo para o comportamento dos preços. "Estamos trabalhando com uma expectativa conservadora de que a taxa de juros possa chegar ao final do próximo ano em 15%", disse. Ele não desconsidera, entretanto, a hipótese de que taxa possa fechar 2006 abaixo da marca dos 15%. "No nosso cenário, estamos considerando uma inflação de 4,2% para o próximo ano. Como este porcentual é menor que os 4,5% da meta central, é possível que o BC tenha mais espaço para reduzir os juros", comentou.

A taxa real de juros no cenário imaginado por Camargo ficaria em torno dos 10,5%. O porcentual representaria uma queda de quase 3 pontos porcentuais da taxa real de juros em 2006. Com isso, a taxa chegaria perto de um limite considerado adequado por parte dos economistas para evitar um recrudescimento da inflação.

O consultor Amir Khair, no entanto, discorda desta tese e defende um corte mais ousado na taxa real de juros. "Isto diminuiria custos das empresas e poderia permitir um aumento dos níveis de investimentos na economia", disse. Para ele, estes fatores poderiam ajudar o BC a controlar a inflação. "Ao investir em portos, por exemplo, o governo poderá proporcionar uma redução de custos e, com isso, evitar uma alta de preços", disse.

Para Khair, a taxa de juros não tem se mostrado um bom instrumento de combate ao processo inflacionário. "Temos que pensar na alternativa de reduzir impostos e aumentar os investimentos para combater a inflação", disse. A taxa de investimento no Brasil vem patinando em torno de um nível próximo dos 19% do PIB. Para muitos analistas, o ideal seria que esta taxa estivesse em aproximadamente 25% do PIB.

A taxa de câmbio, segundo Camargo, poderá sofrer uma desvalorização da ordem de 5% no próximo ano e ficar em cerca de R$ 2,30 no final de período. A previsão, segundo o economista, leva em conta um superávit na balança comercial em 2006 de US$ 35 bilhões a US$ 36 bilhões e uma sobra de capitais externos da ordem de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões. "A nossa projeção para câmbio também é conservadora", ressaltou.

Apesar do otimismo, a pesquisa do BC divulgada hoje revelou uma queda das previsões de fluxo de investimento estrangeiro direto para o próximo ano de US$ 15,95 bilhões para US$ 15,45 bilhões. Os investimentos diretos, na visão de alguns economistas, tendem a acompanhar a velocidade de crescimento da economia. "Com a economia crescendo mais, os investimentos diretos tendem a aumentar também", disse um analista ouvido pela Agência Estado. Para este ano, as estimativas de fluxo de investimento direto ficaram inalteradas em US$ 16 bilhões, apesar da revisão para baixo das previsões de crescimento do PIB. O número estimado é o mesmo esperado pelo próprio BC.

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