A valorização e a estabilidade do câmbio é um dos principais trunfos do Banco Central (BC) para manter a trajetória de cortes da taxa básica de juros (Selic), mesmo com a falta de suporte da política fiscal. As previsões do mercado para 2007 são de que o Brasil continuará a ser inundado por dólares, provenientes tanto de aplicações financeiras e de ações quanto da balança comercial. A principal ameaça a este cenário é uma mudança drástica na economia global, mas os temores em relação a isso vêm se dissipando.
Segundo o Crédit Suisse, as reservas internacionais do Brasil, hoje em US$ 85 bilhões, atingirão US$ 112 bilhões no fim de 2007 e US$ 134 bilhões em 2008. O câmbio ficará em torno de R$ 2,15 até o fim de 2008. A âncora cambial, se mantida de fato, facilita o trabalho do BC.
O mercado prevê uma trajetória cada vez mais rápida de queda da taxa básica de juros. No início de 2006, a projeção média de mercado era de que a Selic fecharia 2007 em 13,63%. Na última rodada de previsões, colhida em 15 de dezembro, a taxa de juros média para o final de 2007 havia caído para 12,32% (e já há projeções pouco acima de 11%). A Selic final de 2006, de 13,25%, está abaixo da projeção média que o mercado fazia no início deste ano para o fim de 2007.
Os maiores riscos para essas projeções otimistas vêm da economia internacional, especialmente de desequilíbrios americanos. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o déficit em conta corrente dos Estados Unidos deve ficar em 6,6% do PIB (US$ 869 bilhões) em 2006, e em 6,9% (US$ 959 bilhões) em 2007.
Num cenário benigno, o dólar se desvaloriza gradualmente, aumenta a demanda de produtos americanos pelas outras grandes economias globais, e, enquanto os Estados Unidos desaceleram suavemente, Japão e União Européia (UE) aquecem os motores para não deixar que o mundo perca ritmo. O cenário pior combina uma desvalorização mais abrupta do dólar, pressão inflacionária e recessão nos Estados Unidos. Mas a probabilidade atribuída pelo mercado a esta segunda hipótese vem caindo, o que é positivo para o Banco Central.
Outro fator que dá tranqüilidade ao BC, segundo Ilan Goldfajn, gestor da Ciano, empresa de administração de recursos, foi o grande aperto monetário de 2004 e 2005, que derrubou drasticamente a inflação e as expectativas inflacionárias. ?O grande esforço da política monetária já foi feito, e agora o trabalho é mais de manutenção?, diz Goldfajn, ex-diretor do BC.
Apesar de prever que não haverá maiores problemas em 2007, a maior parte dos analistas critica a aparente falta de empenho do governo na área fiscal e nas reformas, e acham que ela condenará o Brasil a continuar crescendo num ritmo bem inferior à média das economias emergentes. ?Não estamos aproveitando para fazer as mudanças que serão bem mais dolorosas num cenário menos benigno?, alerta Joel Bogdanski, economista do Itaú.
Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN Amro na América Latina, calcula que o crescimento do gasto público em 10 pontos porcentuais do PIB desde a década de 90 está custando ao País cerca de 1 ponto porcentual de crescimento do PIB a cada ano.
Alexandre Pavan Póvoa, diretor executivo da Modal, nota que o BC permanece como ?o catalisador de todas as insatisfações nacionais?. Isto, por sua vez, traz a preocupação de conflitos mais sérios entre o BC e o resto do governo.
?Como é que o governo vai reagir se perceber que os juros mais baixos dos últimos anos quase não fizeram a economia acelerar??, indaga Gino Olivares, economista-chefe do Opportunity Asset Management.