Brasília – O mercado financeiro passou a acreditar que o Comitê de Política Monetária (Copom) voltará a cortar os juros em 0,75 ponto porcentual na reunião dos dias 7 e 8 de março. A revisão otimista está contida na chamada pesquisa Focus divulgada na manhã de hoje (23) pelo Banco Central (BC). Na semana passada, a aposta era de um corte de 0,5 ponto
A expectativa de um corte mais forte na taxa Selic surgiu entre os analistas apesar de eles terem passado a projetar uma inflação mais alta este ano. "A alta dos preços está vindo um pouco acima do esperado", disse o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. Para o fim do ano, a projeção é de uma Selic de 15%
O próprio Agostini acredita, no entanto, que a alta da inflação neste início de ano não é algo preocupante. "São aumentos pontuais que costumam ocorrer todo ano", disse. Ele encara como exageradas as preocupações com uma possível contaminação dos preços mais altos deste período para os demais meses de 2006. "Apesar de termos ajustado minha previsão de inflação para janeiro de 0,45% para 0,55%, optamos por manter nossa estimativa de IPCA de 4,7% para este ano", disse
A avaliação, de acordo com o economista-chefe da Austin Rating, comportaria a possibilidade de queda dos juros de 0,75 ponto porcentual dos juros em março. "Estamos mantendo nossa aposta de que a taxa poderá recuar para 16,5% na reunião de março", disse. Nesta hipótese, a taxa ficaria apenas 0,5 ponto porcentual maior que os 16% existentes antes do início do aperto monetário feito pelo Copom, que começou em setembro de 2004
O principal argumento usado pelo economista da Austin Rating para manter a previsão de queda de 0,75 ponto porcentual é o fato de avaliar que o aumento da inflação corrente não vem sendo provocado por uma alta acima do normal da demanda. Apesar disso, ele admite que a alta das projeções de inflação para este ano contida na chamada pesquisa Focus torna o ambiente mais nebuloso. "Como o comunicado divulgado pelo Copom na semana passada não deu certeza de continuidade dos cortes de juros, é claro que as coisas não ficam muito claras com o resultado desta pesquisa", disse
A mesma dúvida chegou ao mercado e fez os contratos de juros negociados no mercado futuro experimentarem hoje uma leve alta. O economista da Austin Rating lembrou, ao mesmo tempo, que os dados da pesquisa Focus ajudam a formar a opinião dos integrantes do Copom na hora de definir a taxa de juros
PIB
A pesquisa registrou uma queda das previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2005 de 2,4% para 2,3%. Apesar da redução, o porcentual ainda é otimista em relação às estimativas de alguns analistas de mercado, que trabalham com a possibilidade de o PIB ter se expandido apenas 2% no ano passado. Para este ano, as expectativas de expansão do PIB continuaram estáveis em 3,5%. O porcentual, entretanto, é inferior aos 4% de aceleração econômica esperada pelo BC para 2006, segundo os dados do Relatório de Inflação divulgado ao final de 2005. No mercado, ainda é possível encontrar apostas que oscilaram entre 3% e 4,5% de aumento do PIB
Nesta quinta-feira, o Banco Central divulga a ata da última reunião do Copom, que cortou a taxa de juros básica da economia brasileira de 18% para 17,25% ao ano. O documento conterá as informações que foram levadas em conta pelos diretores do BC para decidir pelo corte de 0,75 ponto porcentual.