O mercado está à beira de um ataque de nervos, como as mulheres do filme de Almodóvar. Sob certos aspectos, é importante que haja um segundo turno nas eleições. Isso leva à escolha de um presidente que represente de fato a vontade da maioria do eleitorado e permite, em pouco menos de três semanas, que se aprofundem os debates entre os dois candidatos mais votados. Esperamos que, desta vez, com abordagem dos problemas nacionais, suas soluções e como alcançá-las. A bipolarização verificada não teve sequer clara distinção ideológica ou programática. Apenas ocorreu oposição e governo. E como a oposição sempre foi mais capaz de apontar os problemas que sugerir soluções, muito resta agora a debater de forma séria e propor de maneira objetiva.
O problema é segurar o mercado, oferecendo-lhe doses diárias de tranqüilizantes. Não o acalmarão de todo, mas precisam, pelo menos, evitar que em suas sandices passe a simplesmente ignorar o Brasil ou dirigir-lhe um ataque especulativo que o leve à paralisação e à inadimplência.
O que resulta da turbulência e das incertezas, diante de uma eleição que ainda não se definiu e de candidaturas que, em seus compromissos, mais ficaram no nem sim nem não, muito pelo contrário, não é só a variação de cotações. Há empresários, aqui mesmo, dentro do Brasil, que pararam de contratar, de comprar máquinas, de lançar novos produtos, de retomar a produção ou aumentá-la, de vender, de oferecer empregos, todos à espera da definição da eleição, de compromissos firmes de quem seja o eleito e do anúncio sobre quem comporá sua equipe econômica.
Até agora, só se sabe que, na hipótese de vitória de José Serra, o presidente do Banco Central continuará sendo Armínio Fraga. Será meio caminho andado para o atendimento às expectativas do mercado. Acontece que as maiores possibilidades são de vitória de Lula e nenhuma indicação palpável há sobre quem integrará seu ministério. Também não se sabe se os componentes da área econômica serão escolhidos por critérios técnicos e/ou também políticos. Tanto Lula quanto Serra precisam compor forças de sustentação para um eventual governo e aí poderão ser tecidos compromissos que influam não só na escolha de nomes, como também de políticas econômicas. Não nos esqueçamos que o principal partido aliado do PT é o PL, agremiação de direita na geografia da política brasileira por ser liberal. Em princípio, não se misturariam. Mas se uniram para chegar ao poder. Ficarão juntos e juntos trabalharão, para exercê-lo? Com qual política econômica?
Serra, embora possa ser considerado esquerda, está mais comprometido com o que deseja e espera o mercado. Necessitará também de composições para garantir a governabilidade, mas dele se aproximarão PFL e outras forças tidas como conservadoras. Um quadro mais fácil para formar um ministério e a equipe econômica. Temos de torcer para que, qualquer que seja o eleito no segundo turno, desde logo vá anunciando o seu ministério, única fórmula para tranqüilizar o mercado. Se demorar muito, o Brasil é que vai sofrer um severo ataque de nervos de difícil recuperação.