O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), terá que se desdobrar
para contornar a crise política agravada ontem, com a rejeição do nome do
jurista Alexandre Moraes para o Conselho Nacional de Justiça, e restabelecer o
clima de entendimento na Casa. A oposição acusou Mercadante de ter rompido o
acordo político, o que em política é imperdoável, e ter pedido a senadores que
votassem contra o indicado da Câmara e ex-secretário de Justiça de São Paulo. O
petista, segundo os senadores do PSDB e PFL, teria, nessa estratégia, contado
com a ajuda do líder do PMDB, senador Ney Suassuna(PB).
A derrota de
Alexandre Moraes revoltou a oposição que promete agora paralisar os trabalhos da
Casa enquanto não se encontra uma solução para o problema. "A situação já estava
ruim e agora vem essa bomba para explodir qualquer tipo de articulação", reagiu
o senador Tasso Jereissati(PSDB-CE), que não se conteve e chamou Mercadante de
"falso" gritando no plenário. Para o PSDB, Mercadante não honrou o acordo feito
em torno do nome de Alexandre assumindo um gesto de retaliação
política.
Além de enfraquecer o governador Geraldo Alckmin, vetando o
nome de um ex-auxiliar do tucano para o Conselho Nacional de Justiça, o líder
governista deu uma resposta à oposição que, na segunda-feira, chegou ao Senado
já pedindo uma CPI para apurar as denúncias de cobrança de propina nos Correios.
O PT fez na terça-feira uma reunião e concluiu que o objetivo do PSDB e PFL era
atingir o governo, uma vez que a CPI vai investigar também outras estatais, o
que teria ficado claro na justificativa do requerimento entregue ontem à Mesa do
Congresso.
Mas o clima político está tão desfavorável ao entendimento e
ao governo que alguns senadores do PT estão ameaçando assinar o requerimento e
hoje devem tomar uma posição. A crise no Senado deve se estender à Câmara, já
que a manobra atingiu o candidato dos deputados ao Conselho Nacional de Justiça.
A ação de Mercadante, que desencadeou nova crise, aconteceu justamente no dia em
que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou as conversas com a sua base
aliada recebendo, em seu gabinete para um café da manhã, os líderes dos partidos
governistas e também os de oposição.
Segundo parlamentares ligados ao
governo, ainda hoje continua a tentativa do Planalto de retirar assinaturas do
requerimento da CPI, uma estratégia delicada já que são 46 senadores e 222
deputados, ou seja, 19 senadores e 51 deputados além do número exigido pelo
regimento. As assinaturas podem ser retiradas até a publicação do requerimento
no Diário Oficial. A publicação é feita depois da leitura do pedido na sessão do
Congresso Nacional, que deverá ocorrer na próxima quarta-feira.