Em depoimento dado à Polícia Federal, o senador Aloízio Mercadante (PT-SP) contradisse as declarações dadas por Oswaldo Bargas à CPI dos Sanguessugas e à própria PF. Mercadante, que depôs em sigilo ao delegado Diógenes Curado em Brasília, informou que no início da noite de 4 de setembro, onze dias antes do estouro do escândalo, teve uma reunião com Bargas e Expedito Veloso, acompanhada pela senadora Ideli Salvati (PT-SC) na qual os dois informaram que os Vedoin estavam escondendo informações sobre a existência de irregularidades na administração tucana no ministério da Saúde. Mencionaram a existência de Abel Pereira como intermediário na liberação de recursos para ambulâncias.
Segundo Mercadante, no encontro Bargas sugeriu que o PT utilizasse a audiência no Conselho de Ética do Senado, marcada para o dia seguinte, para vincular José Serra, Barjas Negri e Abel Pereira ao esquema sanguessuga. O empresário Luiz Antônio Vedoin deporia no conselho e a proposta era pressioná-lo durante a reunião para que contasse o que sabia a respeito de irregularidades contra os tucanos. "O encontro foi a pedido de Bargas. Eles estavam juntos e Expedito Veloso, que eu não conhecia, estava mais informado sobre os detalhes", disse Mercadante, e falou sobre o conteúdo de seu depoimento. Bargas e Expedito, ex-integrantes do comitê de campanha do presidente Lula, são suspeitos de envolvimento na operação de compra do dossiê.
Na CPI, Bargas afirmou que conhecia apenas muito superficialmente o conteúdo do dossiê, omitiu o encontro com Mercadante e afirmou sua única participação no caso foi acompanha a entrevista concedida pelos Vedoin à Revista IstoÉ. Em relação ao seu depoimento à PF, dado no dia 22 de setembro, a divergência é ainda maior. Bargas declara que no dia "4 ou 5 de setembro" foi procurado por Jorge Lorenzetti (apontado pela PF como o suposto coordenador da operação) que buscava a indicação de um jornalista para tratar de um assunto relacionado a "uma denúncia" que havia recebido. No encontro, Bargas afirmou que não se lembrava se Lorenzetti "já teria lhe falado naquela ocasião se as denúncias eram contra membros do PSDB".
Ele também omitiu à PF a reunião com Expedito, Mercadante e Ideli realizada no mesmo dia 4 de setembro. O encontro foi realizado no gabinete do senador, mesmo local onde ele deu seu depoimento a Curado. Mercadante afirmou que não aceitou a proposta e pediu a Ideli Salvati que não tocasse no assunto no dia seguinte, o que ocorreu.
Lacerda
Além de complicar a situação dos "aloprados", Mercadante também comprometeu seu ex-assessor, Hamilton Lacerda, que segundo a PF, seria o "homem da mala" responsável pela entrega do dinheiro que pagaria o dossiê no Hotel Íbis. Ele informou ao delegado que não considerava "factível" a versão apresentada por Lacerda de que levava boletos de contribuição de campanha em uma das sacolas que deixou no Hotel Íbis. O senador também afirmou que as funções de Lacerda eram supervisionar a elaboração de seus programas eleitorais veiculados na TV e coordenar a campanha na região do ABC paulista. Segundo Mercadante, Lacerda não tinha qualquer função financeira em sua campanha e desconhecia que ele fizesse arrecadação de fundos com boletos na campanha presidencial.
O senador reafirmou em seu depoimento que jamais se associou "à iniciativa" de pagar pelo dossiê dos Vedoin, que não teve qualquer participação no episódio e que não autorizou ninguém (inclusive seu ex-assessor Lacerda) a participar. Mercadante também afirmou que nunca conversou com Lacerda sobre o assunto e o demitiu no dia 20 de setembro por quebra de confiança.
Colaborou Marcelo Auler