O clima kafkiano da tragicomédia política brasileira acaba de ganhar mais um ingrediente. As acusações feitas por Antonio Rogério Buratti ao ex-prefeito de Ribeirão Preto, ex-ministro da Fazenda e hoje deputado federal, Antonio Palocci (PT-SP), quanto ao recebimento de pagamento mensal de R$ 50 mil feito por um empreiteiro do setor de limpeza urbana e coleta de lixo, foram retiradas.
É isso mesmo. Buratti, que durante bom tempo – anos – desfrutou de um cargo de secretário municipal na administração de Palocci e que mais tarde pontificou como um dos responsáveis pela manutenção do palacete brasiliense onde se reunia a ?República de Ribeirão?, até que o caseiro Francenildo a aniquilou com algumas inconfidências, afirmou ao Ministério Público ? com todas as letras ? que o antigo patrão empalmava todo mês a polpuda contribuição, destinada a financiar campanhas do incorruptível Partido dos Trabalhadores.
Agora, o referido senhor volta à baila para admitir candidamente que mentiu, tanto aos policiais quanto aos promotores que o ouviram em agosto de 2005, na delegacia secional de Ribeirão Preto. A mesma acusação seria repetida por Buratti perante a CPI dos Bingos do Senado.
Dentre as razões hoje desencavadas pelo acusador ao registrar no 14.º Tabelião de Notas de São Paulo o pedido de indulgência plena, Buratti alega que foi submetido pelas autoridades a ?um ritual de execração pública? mediante o qual se sentiu ?moralmente destruído perante filhos e familiares?.
Cientificado do arrependimento de Antonio Rogério Buratti, o deputado Antonio Palocci afirmou que soube do fato pela leitura dos jornais. Perguntado se havia ficado surpreso, o ex-ministro se limitou a rir. Para os demais, talvez o recurso seja chorar.