Quando estouraram as denúncias sobre o mensalão e os financiamentos ilegais de campanhas eleitorais, Lula se encontrava na Europa. Uma repórter inexperiente e desconhecida conseguiu tirá-lo do silêncio, posição em que fica quando seu governo ou gente de seu grupo de apoio é atingida. Disse que esse criminoso tipo de procedimento era velho e comum no Brasil, como se a decorrência do tempo e a repetição o tornassem aceitável ou pelo menos perdoável. Ele foi perdoando um a um dos seus aliados então acusados. E a maioria passou pelo Conselho de Ética da Câmara e, mesmo os condenados, receberam indulgência plena de seus pares no plenário. Deu tudo em pizza, até que agora o Supremo Tribunal Federal, acionado pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, está apreciando todas as maracutaias, desta vez à luz da legislação civil e penal. O chamado foro privilegiado tão caro aos políticos acabou se tornando um tremendo abacaxi, pois na Justiça parece claro que poucos irão escapar. A primeira denúncia alcançou mais de 40 políticos, entre eles parlamentares e ministros.
Agora surge a segunda denúncia sobre fatos velhos de 1998 e localizados em Minas Gerais. A Terra das Alterosas parece ter sido a inventora do mensalão, ou melhor, do financiamento de campanhas eleitorais dentro de um esquema escuso em que eram levantadas elevadas importâncias em dinheiro até mesmo em bancos públicos. E tudo era compensado com contratos duvidosos de publicidade com empresas do já sobejamente conhecido Marcos Valério, personagem também daqueles casos dos mensalões.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na semana passada e durante convenção do PSDB, não apoiou os seus correligionários agora acusados. Mas fez questão de distinguir mensalão de levantamento irregular e até criminoso de dinheiro para financiar campanhas eleitorais. A turma do governo está sendo processada no STF por causa dos mensalões, que eram importâncias pagas uma, duas ou mais vezes a muitos políticos do PT e de partidos aliados para que votassem com o Executivo. São os que o procurador chamou de quadrilha. FHC explicou que no caso mineiro o que houve foi o levantamento de recursos financeiros, da mesma forma proibida, para financiamento da campanha do tucano Eduardo Azeredo, hoje senador pelo PSDB, e para o petebista Walfrido dos Mares Guia, então candidato a deputado federal e, até há uma semana, ministro das Relações Institucionais.
Este não teve outra saída a não ser renunciar ao cargo, batendo no peito e proclamando inocência, no que não acredita a Procuradoria Geral da República. Neste caso de Minas Gerais e que envolve tucanos, foram quinze os denunciados. Isso demonstra que o chamado foro privilegiado, no caso o STF, está sendo isento, não distinguindo governistas de oposicionistas e buscando punir a todos os que tiverem culpa em cartório e que compraram os votos do povo com dinheiro direta ou indiretamente arrecadado dos bolsos dos cidadãos.
Ironicamente, a denúncia contra os tucanos mineiros surgiu quando o PSDB desenvolve, na televisão, uma propaganda política interessante. Diante de uma fotocopiadora, uma pessoa vai apresentando cartazes com tudo o que o PSDB fez, o PT copiou e foi melhor para o País. Alguma coisa também que não copiou e foi ruim para o Brasil. Há cartazes sobre a criação do real, combate à inflação, privatizações, união de programas sociais e muitos outros fatos que o PT manteve do governo FHC e levou adiante, aperfeiçoando e aumentando, no que não há nenhum desdouro. Pelo contrário, merece elogios.
Mas os tucanos esqueceram de falar no mensalão de Minas Gerais. Aquele escuso financiamento de campanha o PSDB inventou, o PT copiou e aumentou em milhões e milhões de reais. E foi mau para o Brasil.
