O agosto que agora se inicia oxalá não seja mês de desgosto para a sacrificada nação brasileira, mas para algumas dezenas de políticos que, tapeando a opinião pública, pisando sobre as leis e rasgando aos pedaços princípios de ética, embolsaram os mensalões. E ainda foram absolvidos pelo plenário da Câmara dos Deputados, num escárnio para com a opinião pública e o eleitorado que os pôs no parlamento, transformado num nada limpo poleiro. Deve ser recordado que o mensalão foi o apelido dado às mensalidades que eram pagas a deputados para que apoiassem o governo ou votassem propostas dele ou de grupos interessados. Um salário extra, vindo de empresas particulares, que os tomavam de bancos e faziam passar pela tesouraria do PT. Uma maracutaia que ocupou as páginas dos jornais e os noticiários das emissoras de rádio e televisão durante muito tempo, mas acabou jogada de escanteio quando outras, e depois outras, foram denunciadas. E todas viraram pizza.

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Na Câmara dos Deputados, mesmo que a Comissão de Ética condenasse, o plenário da Casa era a última instância. E lá o espírito de corpo é evidente. Corvo não come corvo e os deputados acabaram considerando inocentes praticamente todos os acusados, com culpa provada sobejamente. Um deles, ao ser absolvido, ainda foi brindado com um samba dançado por uma robusta correligionária. Felizmente o povo não a reelegeu, como não reelegeu mais uma meia dúzia de acusados que renunciaram aos seus mandatos para não ficarem durante oito anos no ostracismo político e poderem candidatar-se no pleito seguinte. Alguns conseguiram, mais uma vez, tapear seus eleitores e estão de novo aboletados nas cadeiras do Congresso Nacional.

À época, neste espaço, dissemos que ainda restavam esperanças de que um dia se fizesse justiça. Que o Ministério Público Federal, que é independente, não titubearia em denunciar os políticos corruptos que se beneficiaram do mensalão e, como estes têm foro privilegiado, acabariam com seus processos no Supremo Tribunal Federal.

A história demonstra que, por esta via, nenhum político brasileiro foi condenado. Culpa da lerdeza das nossas instituições judiciais, da ineficiência de nossa legislação processual e, por que não dizer?, em razão da vocação de sempre só condenarem, neste País, os pobres e pessoas sem status.

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A ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal, acaba de marcar para o próximo dia 22 o início da sessão que analisará a denúncia do Ministério Público contra a ?organização criminosa? do mensalão. Nessa oportunidade, o Supremo terá de decidir se abre ou não processo contra as quarenta pessoas – os quarenta ladrões de Ali Babá – denunciadas pelo procurador-geral, chefe do Ministério Público, Antônio Fernando de Souza. Será a sessão mais longa já realizada naquela corte. Cerca de três dias. O relator, ministro Joaquim Barbosa, terá de 22 a 24 para dizer se o processo prossegue ou vai para a gaveta. Quem são os quarenta ladrões não sabemos, pois o processo corre em segredo de Justiça.

Por mais que labutem em favor dos mensaleiros o segredo de Justiça, a inexistência de tradição de condenações em casos como esses, as longas defesas dos advogados, as procrastinações e enrolações, é preciso que a opinião pública esteja atenta. Ao acompanharmos o novo capítulo do escândalo do mensalão no STF e os meios de comunicação relembrarem a roubalheira e o escárnio que significaram contra a nação, estaremos empurrando o processo, para que ele não se transforme, mais uma vez, em pizza e samba.

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