O escândalo do mensalão – que envolveu de parlamentares a ministros de Estado, sendo o estopim para a saída de José Dirceu da Casa Civil – fez a avaliação de risco do Brasil crescer entre os investidores internacionais. "Investimentos foram cancelados ou postergados, especialmente na indústria de transformação", diz José Francisco Compagno, sócio da área de Investigação de Fraudes da consultoria Ernst & Young, que elaborou a pesquisa "Riscos de Fraudes nos Mercados Emergentes" e um levantamento do perfil das fraudes nas empresas em São Paulo e no Rio.
"O mensalão foi a informação que mais rodou internacionalmente entre os investidores. Virou uma espécie de marco de risco. Há, entre os executivos de multinacionais, uma percepção de retrocesso em relação à conduta ética no Brasil", diz Compagno. Segundo ele, não há ainda como mensurar o volume de investimentos que poderia ter ingressado no País não fosse esse risco. "É difícil quantificar, porque a entrada de recursos continua alta, mas poderia ser maior. O que os investidores chamam de ‘custo oculto’, que advém do risco de fraude, corrupção e propina, encarece e, às vezes, inviabiliza o investimento", diz ele.
A pesquisa foi feita com 586 empresas com atuação em 19 países. A principal questão era se algum investimento já havia sido abortado por causa de riscos de corrupção. O resultado foi que uma em cada cinco deixaram de investir em mercados emergentes após avaliar o risco de fraude nos países em que pretendiam aportar.
Compagno disse que a pesquisa não foi aberta por País, até para evitar problemas comerciais ou diplomáticos ou qualquer outro constrangimento. Mas disse que, na América Latina, a percepção de risco do Brasil está, mais ou menos, no mesmo nível da Argentina e Colômbia como as maiores preocupações das empresas.
"O Brasil é visto como o principal motor da América Latina e hoje já não há mais o julgamento de que todos os países latino-americanos são iguais. " Segundo Compagno, o nível de risco de corrupção dos governos é um componente novo na tomada de decisão dos investidores.
No caso do Brasil, segundo ele, o que deixou os empresários perplexos foi o caso do mensalão, com denúncias de que os parlamentares recebiam propinas mensais para não interpor obstáculos a projetos de interesse do governo. O dado positivo da investigação ter atingido todos os escalões foi suplantado, segundo ele, pela negatividade da informação em si. A fuga para outros mercados emergentes ocorreu mais entre empresas de médio porte, que se consideram mais vulneráveis.
Segundo o levantamento, 48% dos entrevistados acreditam que corrupção e pagamento de propinas são as maiores ameaças que as empresas podem enfrentar nos países emergentes, como Brasil, Rússia, China e Índia. A pesquisa apontou percepções diferentes entre os entrevistados baseados em países desenvolvidos e emergentes. Enquanto nestes a corrupção e as propinas são mais ameaçadoras, nas nações desenvolvidas 31% dos executivos apontaram as fraudes internas como maior risco, seguidas da corrupção e de fraudes financeiras, empatadas com 20% dos votos. Entre os entrevistados, 20% afirmaram já ter vivenciado em suas empresas algum tipo de fraude significativa nos últimos dois anos. Destes, 75% disseram que a fraude foi cometida em mercados desenvolvidos.