Não poderia ser mais confortável a cotação do ministro Antônio Palocci junto ao governo norte-americano e Fundo Monetário Internacional (FMI). O médico sanitarista que cuida das finanças nacionais recebeu elogios rasgados – esse foi o registro das agências internacionais – do secretário do Tesouro, John Snow, e do diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI, Anoop Singh.
Como quem tem fama deita na cama, Palocci ganhou coragem e revelou aos jornalistas que no ano que vem a relação entre dívida pública e PIB vai cair. A primeira vez que isso ocorre em ano eleitoral, assegurou, autorizando os repórteres a cobrar a promessa em 2006.
O transbordamento de Snow deu-se em seminário sobre a economia brasileira, realizado em Washington. Afirmou que coisas maravilhosas aconteceram na economia brasileira desde a posse do ministro da Fazenda, cuja competência extrapolou o âmbito nacional para projetá-lo como figura global.
Para o diretor do FMI, outro personagem do pináculo da economia mundial, a crise política brasileira não é suficiente para abalar uma economia plenamente consolidada.
Desemprego, baixos salários, queda de investimentos, carga tributária altíssima, péssima distribuição de renda e outros abscessos enquistados na economia não incomodam os senhores do mundo encastelados nas torres de marfim da globalização. As variáveis que insistem em turvar o cenário econômico interno, por incrível que pareça, renderam os mais destrambelhados encômios ao ex-prefeito de Ribeirão Preto.
A julgar pela desenvoltura com que o ministro Palocci foi aclamado em Washington, seria justo exigir o mesmo tratamento aos colegas de Botswana, Zâmbia e República Centro-Africana, onde os índices de miséria da maior parte da população comovem os mais empedernidos.
Ora, se Palocci merece tudo o que dele apregoam lá fora, por que negar aos esforçados ministros africanos, também condutores de planos econômicos que transformam seres humanos em rebotalhos, a mesma coroa de louros?
A rigor, essa é a primeira vez que se vê o ministro da economia do país colocado em penúltimo lugar na distribuição de renda ser festejado de forma tão altissonante. Alguma coisa deve estar errada.