Soldados das missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) na Libéria e no Haiti – onde o comando está nas mãos de militares brasileiros – estariam envolvidos em casos de abuso sexual contra menores, segundo informações publicadas no site da rede britânica BBC. Meninas entrevistadas nos dois países disseram ter sido estupradas ou ter mantido encontros sexuais freqüentes com soldados em troca de dinheiro ou comida.
Entre as denúncias está o suposto estupro de uma adolescente de 14 anos por um militar brasileiro dentro de uma base da ONU. O caso, ocorrido há dois anos, foi investigado pela organização, mas acabou arquivado por falta de provas e o militar acusado voltou para o Brasil. Outra garota da mesma idade disse ter sofrido abusos sexuais por soldados de paz da ONU junto ao portão do palácio presidencial, em Porto Príncipe. Na Libéria, uma menina relatou ter sido atacada por militares da ONU há apenas duas semanas.
Em entrevista à BBC, Jane Holl, secretária geral assistente para as Missões de Paz da ONU, admitiu que o problema é endêmico. "Temos tido problemas desse tipo, relacionados à exploração de populações vulneráveis, desde o início das missões de paz ", disse Holl. "Minha conclusão é que esse é um problema em potencial em cada uma de nossas missões".
No ano passado, as acusações de exploração sexual de meninas por tropas de paz da ONU no Congo ajudaram a desatar uma das maiores crises na credibilidade da organização, abalada também pelo escândalo provocado por denúncias de corrupção generalizada no Programa Petróleo por Alimentos no Iraque. Na época, as meninas aliciadas pelos soldados ficaram conhecidas em suas comunidades como "as garotas de US$ 1 da ONU". O secretário da organização, Kofi Annan, prometeu então "assegurar a responsabilização dos envolvidos".
Segundo dados da ONU, 316 integrantes das forças de paz foram ou estão sendo investigados por problemas de conduta. Cerca de 150 militares já foram repatriados e 18 civis foram demitidos.
