Uma reconhecida prática do marketing direto dos feirantes, que sempre funciona, é estender aos clientes um pequenino pedaço de melancia ou outra fruta qualquer, com a finalidade de provar que as mesmas são de excelente qualidade e sabor inigualável. Daí derivaram, certamente, os sofisticados eventos destinados à degustação de finíssimas iguarias somente ao alcance de consumidores de alto poder aquisitivo. A comparação deixa de ser importante, no entanto, quando o objetivo é tornar explícita a idéia de que ninguém é tão estulto a ponto de precisar comer a melancia inteira para ficar sabendo se a fruta é ou não saborosa.
A mesma sensação, sem sombra de dúvida, está sendo compartilhada pelos leitores da primeira pesquisa de intenção de votos nas eleições municipais de Curitiba, realizada pela Alvorada Pesquisas, de Londrina, entre os dias 19 e 22 de maio, sob encomenda do Partido Verde (PV) e protocolada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Os frustrados com os primeiros resultados, sem outra razão mais adequada, se limitam a comentar que ainda é cedo e que seus candidatos sequer iniciaram as campanhas, mas quando sua exposição começar a ser percebida pelos eleitores, o panorama vai mudar.
Por enquanto, o resultado da pesquisa foi um tonel de água no ponto exato do congelamento, sobre a decantada pretensão do governador Roberto Requião de levar até o fim a debilitada candidatura do reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Augusto Moreira Júnior, à Prefeitura de Curitiba. Vexame é o termo propício para definir a situação, tendo em vista que o candidato do governador e, por extensão do PMDB, não conseguiu encostar na faixa de 1% das intenções de voto dos curitibanos (obteve insignificantes 0,8%), o que nesse momento o transforma numa carta de pouco valor inclusive nas negociações visando um virtual segundo turno.
Um diminuto naco da melancia eleitoral foi provado, mas seu sabor avinagrado parece não ter sido apreciado nem pela militância partidária, fato que levou um dos palafreneiros preferidos do governador a proferir um juízo de valor desde já autorizado a figurar nas páginas de todas as antologias de sandices planejadas daqui em diante: ?Só de militantes do partido temos mais que esse índice que a pesquisa mostrou?. Ora, conduzindo o raciocínio para a tese absurdamente esquizofrênica de que os pesquisadores manipularam a pesquisa para ouvir apenas filiados do PMDB a fim de escrutinar o peso eleitoral do candidato, a apuração não podia ser pior, pois identificou como desprovida dos elementos mínimos de relevância e densidade eleitoral a esforçada participação do reitor da UFPR. A essa altura e, em boa hora, ele provavelmente esteja sendo aconselhado pelos amigos leais que possui em quantidade, a se safar com urgência da desastrada gesta brancaleônica nutrida pelo ermitão político que hoje vive confinado à granja do Canguiri.
O atual prefeito Beto Richa está disparado na frente com 62,4% das intenções de voto dos curitibanos, sobretudo numa retribuição aos efeitos positivos duma administração que dispensou as costumeiras obras faraônicas tão apreciadas por prefeitos anteriores, mesmo não tendo tido condições ou meios para resolver gargalos angustiantes da cidade, entre eles a problemática causada pelo intenso fluxo de veículos. No segundo bloco, aparecem os corredores que ainda aquecem os músculos: Gleisi Hoffmann (7,6%), Rubens Bueno (4,4%), Ratinho Jr. (4,1%) e Carlos Simões (3,8%). Mas, até o final da fila a soma da intenção de votos de sete candidatos não chegou a ultrapassar irrisórios 5,5%. Um desempenho pífio e humilhante.
Aliás, comprovação eloqüente de que o eleitor não mais se deixa engambelar por chavões, bravatas e discursos sem consistência, além da indigência curricular de muitos que não se envergonham de pedir o voto dos concidadãos.