O esforço do governo para conseguir pôr um freio na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Banestado no Congresso resultou num acordo político para permitir que os presidentes dos Bancos Central (BC), Henrique Meirelles, e do Brasil (BB), Cássio Casseb, expliquem, em audiência conjunta das comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Fiscalização e Controle (CFC) do Senado, as denúncias de sonegação fiscal. Uma semana depois de a CFC ter aprovado um convite para que Meirelles e Casseb compareçam na comissão, hoje a CAE votou um requerimento na mesma linha. Como se trata de um convite, a data será marcada em comum acordo entre as duas comissões e eles.
A intenção da administração federal é deixar os depoimentos para depois das eleições de 3 de outubro, mas a oposição não admite esperar tanto tempo. “A data será acordada. Pode ser a qualquer momento”, afirmou o chefe da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República, Aldo Rebelo, que passou parte do dia de hoje em conversas no Legislativo. “Eles virão no momento oportuno”, desconversou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), após um dia de reuniões com a oposição.
Quando, exatamente, não se sabe. A reivindicação da base aliada foi para que isso não ocorra nos próximos 15 dias. O Poder Executivo não quer expor, especialmente Meirelles, num momento de discussão importante na área econômica. Nos dias 17 e 18, o presidente do BC comanda o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a trajetória dos juros no País. Apesar de o mercado avaliar que essa reunião não será tão difícil para o BC, uma vez que se espera a manutenção da taxa de juros no patamar atual, a equipe econômica deseja evitar qualquer tipo de vinculação da decisão que será tomada pelos diretores do banco com a crise envolvendo Meirelles.
Além disso, na próxima semana, também será divulgado o resultado do BB no primeiro semestre de 2004, que é esperado com grande ansiedade, depois dos lucros recordes apresentados pelos maiores concorrentes privados, como Bradesco e Itaú.
“Não dá para correr o risco de expor ainda mais o presidente do BC num momento de uma definição técnica da maior importância para o País. Seria uma burrice”, avalia uma fonte.
O acordo em torno da convocação dos presidentes do BC e BB foi um sinal de que o Executivo e a oposição começaram a baixar o tom das discussões e tentam negociar, diplomaticamente. O texto do requerimento, que, inicialmente, citava as acusações contra Meirelles e Casseb, foi trocado por temas sobre economia, assim como o aprovado na CFC.
O Palácio do Planalto insiste, porém, que é preciso despolitizar o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Banestado no Congresso, criada há um ano para apurar remessas ilegais de recursos para o exterior. “Ou despolitiza ou a comissão será desmoralizada”, afirmou o líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra (PTB-RN), tentando desfazer a confusão criada com a apresentação do pedido do deputado Eduardo Valverde (PT-RO) para que sejam convocados para depor na CPI o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato a prefeito de São Paulo José Serra (PSDB). “Ninguém concorda com isso”, completou.
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