Não são os impostos que são altos. Nós é que ganhamos pouco. Ou, como escreveu um humorista, nós é que somos baixinhos. O IBPT – Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário -, em estudo realizado por encomenda da Associação Comercial de São Paulo, concluiu que o trabalhador precisa de 172 dias, quase seis meses de trabalho, para ganhar o suficiente para pagar impostos. O fisco leva a metade e sobra para o trabalhador outra metade, que tem de dividir com a mulher, os filhos e, na atual situação de desemprego, não raro com noras, genros, netos, cunhados e outros agregados desempregados.
Um brasileiro com salário mensal de R$ 3 mil paga R$ 516 de Imposto de Renda e INSS. Mais R$ 856 de ICMS, Cofins, PIS e ISS. Estes são os tributos indiretos embutidos nos bens e serviços que a gente tem de consumir e usar. Se este mesmo trabalhador for o feliz dono de uma casa e de um carro, terá de pagar o IPVA e o IPTU. Levam mais uns R$ 42 do seu orçamento. No fim, pagou, dos 3 mil que ganhou, R$ 1.414 em impostos.
O IBPT considerou cinco faixas salariais, de R$ 276 a R$ 5 mil. Mesmo para os que recebem pouco, R$ 500 por exemplo, a tributação é altíssima. Mas e os isentos do Imposto de Renda, aqueles que estão na faixa de R$ 1.058 por mês e agora há perspectivas de que ela suba em 10%, muito menos do que o governo e a inflação já abocanharam desses trabalhadores? Estes têm incidência de R$ 38,25 de INSS e R$ 150,80 de impostos sobre o consumo. Para pagar isso tudo, o trabalhador tem de labutar 144 dias. Assim, até o pobre sustenta o governo com seu ganho de quase seis meses.
Não é muito diferente em relação às empresas, e lembremo-nos que elas nos dão empregos. Elas são oneradas com a enorme carga tributária incidente sobre os salários. Estes não podem crescer porque o governo, nos seus diversos níveis, fica com uma enorme parte do que poderia ser aumento para o trabalhador.
No caso do salário de R$ 3 mil, o empregador paga nada menos de R$ 1.319 em encargos sociais ao fisco. São 44% do salário. A maioria dos brasileiros não faz idéia de que existe esse confisco, razão por que a Associação Comercial de São Paulo e o IBPT decidiram por uma campanha de esclarecimentos.
Neste ano que está terminando, os brasileiros vão pagar mais de 650 bilhões em impostos, diz o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral. Muito dinheiro, num país com estradas esburacadas, muitas sem pavimentação, um serviço público de saúde caótico, falta de segurança e o Brasil no último ou em algum dos últimos lugares em educação. Se os brasileiros pagam tanto, ganham tão pouco e o governo pega quase meio ano do dinheiro que a gente ganha, onde vai essa montanha de numerário?
Há os desvios, a má aplicação, a incompetência no poder público, os desperdícios, as roubalheiras, as maracutaias. Mas isso não justifica, de todo, que tanto dinheiro saia do bolso do trabalhador e suma. O que parece evidente é que os poderes públicos são excessivamente burocratizados, ineficientes e incompetentes. Sempre há uma forma melhor de gastar o dinheiro do povo, obtendo mais resultados. E a adequada forma de gastar permitiria menores impostos ou, pelo menos, uma carga tributária pesada, mas com compensações que nos fizessem concordar com o que pagamos. O que acontece é que estão confiscando nossos salários e ele entra pelo ralo.
