A atriz Regina Duarte foi ao programa eleitoral de José Serra e disse que tem medo de Lula. Não exatamente do candidato petista, mas do que poderá ser seu governo, para ela ainda uma incógnita. Secundou-a a atriz Beatriz Segall, dizendo que também teme Lula. E foi adiante, dizendo temer que, diante da reação havida nas hostes petistas e coligadas contra o que disse Regina, num futuro governo de Lula sofra patrulhamento, ficando impedida de falar.
Evidente que são expedientes de campanha. Lula conseguiu, nesta campanha “light”, tipo “paz e amor”, vencer férreas resistências que enfrentou nas campanhas eleitorais anteriores. Resistências que o tinham como candidato extremista de esquerda, simpático ao comunismo ou algumas de suas nuances e por isso mesmo temido pelos anticomunistas ideológicos e os muitos que o são por interesses pessoais ou de classe.
Mas persistem alguns temores em determinadas pessoas e mesmo camadas da sociedade, embora no geral Lula seja considerado palatável e um bom nome para promover as mudanças que o País reclama. Olhadas as pregações dos dois candidatos, Lula e Serra, nas entrevistas ou monólogos que substituem os debates, chega-se à conclusão de que, no fundo, dizem a mesma coisa. São os mesmos os diagnósticos dos problemas brasileiros, os mesmos os caminhos apontados para solucioná-los e, no que mais diferem, é na indigitação de culpados. Serra exime-se de apontar culpados, enquanto Lula maximiza a importância de demonstrar que responsável é o atual governo e sua política econômica. E que esta precisa mudar, embora reafirme compromissos, que são os mesmos da atual administração e do próprio Serra. Parece que as diferenças mais notáveis são emocionais, de temperatura, detalhamentos e subjetivas.
Lula entende que é preciso mudar, quer mudar e acredita que conseguirá fazê-lo, realizando muitas conversas, consultas e conquistando o apoio da sociedade, que debateria antes os problemas e as soluções para as questões em pauta. Serra não dispensa as conversas nem o apoio da sociedade e mesmo sua pressão sobre o Congresso, quando requisitar mudanças. Mas é daqueles que acredita que quem quer fazer, faz. Quem não quer, convoca uma reunião. Se a esperança do povo é de que, quem quer que seja eleito, vai de uma hora para outra resolver os mais graves problemas brasileiros, vêm aí decepções. Nenhum dos dois mudará as coisas com a urgência que o povo reclama.
Agora, soma-se aos que têm medo de Lula nada menos que Ciro Gomes, ex-candidato de oposição que agora o apóia. Sem retirar seu apoio ao candidato petista, Ciro disse em entrevista ao jornal O Povo, de Fortaleza, que teme que Lula se torne um “De la Rúa” caso decida manter o modelo econômico do governo FHC. Para Ciro, há o risco de Lula, diante da crise, conciliar-se com “essa turma” que dominou o governo FHC.