Um médico terá que devolver R$ 227 mil aos cofres de Matinhos, no Litoral do Paraná, e da Fundação Estatal de Atenção à Saúde de Curitiba (FEAS), e ainda pagar multa de R$ 5.613,60 pelo acúmulo de cargos públicos em desacordo com a Constituição Federal. A decisão é da Primeira Câmara do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR).
Conforme o processo contra o médico José Carlos Braga Bettega, ele acumulou, de forma irregular, funções efetivas e temporárias de médico nos municípios de Matinhos, Guaratuba, Curitiba e na FEAS.
No entendimento do relator dos autos, o conselheiro-substituto Sérgio Fonseca, para cumprir os horários de trabalho em todos esses locais, o profissional precisaria percorrer 200 quilômetros diariamente. “Conclusão lógica de que a prestação de tais serviços não ocorreu: totalização de carga horária de 144 horas semanais (mais de 20 horas diárias) – em três municípios diferentes – caso somados todos os períodos de trabalho, o que não seria factível”, afirmou Sérgio.
O início da confusão constatada pelo TCE-PR foi ao julgar o registro de um processo de admissão para o município de Matinhos, em que o médico havia sido aprovado juntamente com outros profissionais. Na oportunidade, a então Coordenadoria de Fiscalização de Atos de Pessoal do TCE-PR constatou que ele já atuava no Hospital Municipal de Guaratuba e em um posto de saúde em Matinhos, totalizando 40 horas semanais.
A partir disso, foi negado o registro de admissão do profissional e o caso foi levado ao Ministério Público Estadual. Também devido às ilegalidades, o TCE-PR instaurou uma Tomada de Contas Extraordinária, agora julgada procedente, com o objetivo de apurar a extensão dos danos causado pelo médico.
É permitido ter mais de um cargo público?
De acordo com o artigo nº 37 da Constituição Federal, é proibido o acúmulo de cargos públicos, com exceção do exercício de duas funções de professor, de técnico ou cientista, e de médico, desde que haja compatibilidade de horários.
Bettega, segundo apontado pelos documentos juntados, possuía dois cargos efetivos de médico ginecologista na prefeitura de Curitiba, um cargo temporário de médico no município de Guaratuba, outro temporário em Matinhos e, por último, como ginecologista na FEAS. Em todos, à exceção dos cargos em Curitiba, ele prestou declaração inverídica de que não acumulava cargo público.
No decorrer do processo, ficou comprovado que não houve exercício da função pelo médico tanto na prefeitura de Matinhos, quanto na FEAS, em Curitiba. Conforme a documentação encaminhada pelas entidades nas quais o médico teria prestado seus serviços, o dano ao patrimônio público ocorreu a partir dos vínculos com o município de Matinhos, de junho de 2011 a junho de 2013, e a Fundação Estatal de Atenção à Saúde de Curitiba, de março de 2013 a março de 2014. Mesmo intimado em mais de uma ocasião, ele não apresentou defesa.
A Tribuna do Paraná buscou contato com o profissional e deixa o espaço para um posicionamento sobre o caso citado.
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