Brasília (AE) – Em depoimento de cerca de 12 horas na CPI dos Correios, o ex-chefe de departamento Maurício Marinho elegeu como alvo o PT e aumentou a tensão entre os governistas. Lançou suspeitas sobre a lisura de dois diretores da empresa indicados pelo secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, e levou para a CPI o nome do ministro Luiz Gushiken, da Secretaria de Comunicação de Governo, ao defender que os contratos do Departamento de Marketing dos Correios sejam examinados.
Marinho traçou um verdadeiro plano de investigação, apontando 14 procedimentos dos Correios que, em sua avaliação, precisam ser apurados, incluindo os contratos de publicidade. Antes de apresentar o levantamento, o ex-chefe do departamento de Administração e Contratação contou que os Correios, em caráter emergencial, compraram 500 impressoras da empresa HHP. De acordo com ele, a aquisição teria sido feita por determinação do diretor de Tecnologia da estatal, Eduardo Medeiros, nomeado por indicação do secretário-geral do PT. "Sílvio Pereira é ligado à área de tecnologia", disse Marinho.
O depoimento de Marinho começou na noite de ontem (21), foi interrompido já na madrugada de hoje (22) e retomado de manhã. Assim como o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o funcionário dos Correios não apresentou provas de nenhuma das suspeitas que levantou. Ele repetiu exaustivamente em seu depoimento que os diretores de Operações, Maurício Coelho Madureira, e Tecnologia eram os responsáveis pela maioria dos contratos de vulto da estatal. Confirmou ainda que teve conhecimento de que o substituto de Eduardo Medeiros na diretoria de Tecnologia seria Robison Couri, suplente do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), e não Ezequiel Ferreira de Souza, indicação do senador Fernando Bezerra (PTB-RN).
O único momento em que Marinho envolve o nome do presidente licenciado do PTB em seu depoimento é quando diz que recebeu Joel Santos Filho, que se dizia representante de uma multinacional, a pedido de Marcus Vinícius Vasconcelos Ferreira, que é genro de Roberto Jefferson. Joel foi um dos que gravaram a conversa com Marinho, na qual ele recebe R$ 3 mil e fala de um suposto esquema de corrupção nos Correios comandando por Jefferson. "O Marcus Vinícius me fez três visitas nos Correios e nos telefonemas sempre me pedia para atender algum empresário", contou Marinho.
Maurício Marinho procurou eximir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de qualquer envolvimento com eventuais irregularidades nos Correios. Garantiu que nunca se encontrou com o dono da empresa Novadata, Mauro Dutra, que é amigo pessoal do presidente Lula e tem contratos com a estatal. "Sei que a Novadata foi vencedora de algumas licitações na área de tecnologia. Mas não tenho conhecimento de partidos políticos por trás dela", afirmou Marinho. Ele disse ainda que não conhece o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza – dono das empresas DNA e SM&B, que têm contrato com os Correios.
Assim como fez no depoimento à Polícia Federal, Marinho voltou a afirmar hoje que falou "bravatas" na conversa gravada com o suposto representante da multinacional. Ele confirmou como verdadeiras declarações que aparecem na fita, como a que diz que o "PTB ficou com um rombo nas eleições porque o PT não cumpriu o acordo com os petebistas". Para Marinho, o empresário Arthur Waschek Neto, que vai depor hoje na CPI, não é o único responsável pela gravação da conversa. "Não creio que seja só ele que está por trás dessa gravação", disse.
No longo depoimento de Marinho, os deputados do PT tentaram desqualificar sua fala e lembrar, a todo instante, que ele foi flagrado recebendo propina. "A trajetória de Maurício Marinho nos Correios é complexa e ele usa da mesma tática do deputado Roberto Jefferson para se defender sem ter uma única prova", disse o deputado Jorge Bittar (PT-RJ).