Infelizmente, o governo é sempre o primeiro a dar maus exemplos. E o faz com uma contumácia de enrubescer um frade de pedra. Na base governista, formada pelos partidos que lhe dão apoio congressual, está a principal fonte da pressão sobre o Planalto, com uma insistência próxima da obsessão em cobrar a nomeação de apadrinhados, moeda de troca de alto poder corrosivo do resto de dignidade do governo.
A base arrancou do presidente Lula a nomeação para a presidência de Furnas Centrais Elétricas do ex-prefeito do Rio de Janeiro Luiz Paulo Conde, indicado pelo PMDB sob os auspícios do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não por acaso relator da emenda de revalidação da CPMF e da DRU.
Está aberta a temporada de nomeações para altos postos na administração superior do governo federal, dando-se a largada nas poderosas estatais do setor elétrico. Nesse filão cobiçado há várias outras diretorias importantes que acendem, até para empregar um termo apropriado, o interesse das bancadas que carregam o piano do governo no Congresso.
Como se sabe, o presidente Lula está deveras preocupado com possíveis tropeços na prorrogação da cobrança da CPMF e, em particular, na rumorosa questão da partilha da Desvinculação das Receitas da União (DRU). Descontentes do PR, PP e PTB deram a entender que não estão a fim de segurar, sozinhos, a batata quente e, de antemão, procuram barganhar com o governo a espécie mais atraente de compensação, as nomeações.
O presidente Lula encarregou o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, a acertar os ponteiros com as lideranças da base aliada, tendo em vista que na próxima semana será votado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara o relatório que estende até 2011 a validade da CPMF e da DRU.
Dessa forma, a nomeação de Luiz Paulo Conde para a presidência de Furnas está sendo reputada como o mais forte indício da boa disposição do governo em atender os pleitos da base. Afinal, diretorias da Eletrobrás, Eletronorte e Eletrosul aguçam o apetite dos líderes partidários, que agem com o foco voltado também para as diretorias da Petrobras, a presidência da BR Distribuidora e o comando dos portos em todo o País.
