O clima é tão propício para a disseminação de análises e interpretações sobre o comportamento estratificado do eleitor em relação aos candidatos que polarizam as atenções – Lula e Alckmin – que a provável reeleição do presidente chegou a ser rotulada de ?chavismo à brasileira?. Um antagonismo entre pobres e ricos inexistente do ponto de vista dos magos das pesquisas de opinião, posto que reforçado pela inquietação de setores influentes do chamado ?establishment?.

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Apesar de muita gente postar-se ao lado da tese da mudança radical de sentimentos políticos da população, nos últimos anos, sob os eflúvios da leniência de administrações anteriores (a federal em primeiro lugar), e até dos escândalos do mensalão e dos sanguessugas como fator determinante da blindagem de Lula, também é expressiva a banda que prefere raciocínio oposto.

A vantagem de Lula nas pesquisas e o eventual segundo mandato, para os que apontam um matiz chavista na eleição presidencial, mais que qualquer mérito do projeto de governo, decorre dos métodos populistas que adotou, em maior escala na outorga de recursos financeiros para 11 milhões de famílias paupérrimas das regiões norte e nordeste.

No patamar de 50% dos votos, garantidos pelo contingente assistido pelo Bolsa Família, mais a legião de eleitores localizados no estrato conhecido como classe média, Lula está cada vez mais perto de liquidar a eleição no primeiro turno, repetindo o feito de Fernando Henrique Cardoso, que o derrotou em 1998. Para o dono do instituto Vox Populi, sociólogo Marcos Coimbra, o ex-metalúrgico está na iminência de ganhar uma batalha que não existiu. No auge das denúncias sobre o mensalão, a popularidade de Lula despencou para 30% e muitos chegaram a pensar na imponderabilidade da candidatura à reeleição.

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Como a batalha anunciada não aconteceu e Lula safou-se da ameaça de sangrar até morrer, de quebra, afastando os ministros José Dirceu, Antônio Palocci, Luiz Gushiken e Humberto Costa, sua recuperação foi algo retumbante na política brasileira das últimas décadas e ele pôde valer-se do patrimônio eleitoral próprio, a ponto de julgar dispensável a ajuda do partido que fundou.

Não será difícil perfilhar o argumento de Coimbra sobre a histeria dos principais adversários de Lula, em se tratando do escândalo que arrombou a tulha da ética petista, escancarando o ultraje. Houve histeria sim e, mais grave, nenhuma iniciativa proficiente capaz de obter o acolhimento da sociedade, puxada pela carga de credibilidade e embasamento institucional para avançar. Livrando-se do contrapeso incômodo, o presidente teve forças para fugir do inferno astral e fruir pela segunda vez a unção do voto da maioria.

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Lula não é um Chávez nascido em Garanhuns nem os brasileiros votam com o mesmo elã dos venezuelanos, embora aqui como lá as diferenças socioeconômicas sejam semelhantes. Também não é aceitável afirmar que o brasileiro não sabe votar, lembra o sociólogo, tirando do arquivo o azarado gol contra marcado por Pelé há tantos anos.

Há quem jure que a derrocada de Alckmin se deveu à comparação dos governos Lula e FHC. Se com todos os malfeitos cometidos por seus amigos, Lula tem a preferência de mais da metade dos eleitores, é puro despeito dizer que brasileiro não aprendeu a votar.