Martinho da Vila faz 72 anos amanhã. Nasceu no carnaval de 1938 e diz que volta e meia seu aniversário coincide com “o maior espetáculo da Terra”. Só que desta vez confessa: está sentindo “ansiedade de principiante”. Após 17 anos sem compor o samba-enredo da Unidos da Vila Isabel, o sambista volta este ano para animar o público da Marquês de Sapucaí com uma homenagem a outro símbolo do bairro carioca. “Noel Rosa para a Vila Isabel é quase uma entidade, um santo”, comenta Martinho. “Noel, a presença do Poeta da Vila” marca o retorno dele ao posto de letrista da escola de samba desde “Gbala – Viagem ao Templo da Criação”, em 1993. “Vai ser um desfile muito especial porque o tema é Noel Rosa, eu sugeri o enredo, também fiz o samba-enredo e faz muito tempo que a Vila não desfila com um samba meu, quer dizer, é uma coisa emocionante”, resume Martinho.

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E a homenagem a Noel Rosa não ficará apenas no samba-enredo. Ele está preparando um CD intitulado “Martinho Canta Noel”, somente com composições de Rosa e participações especiais de artistas como a filha Mart’nália e Aline Calixto, entre outros. O trabalho, que será encartado em um livro sobre Rosa, será finalizado após o carnaval, mas ainda não tem data de lançamento.

A comemoração do aniversário de Martinho neste ano, que antecede em um dia o início do carnaval carioca, será ao redor de seus músicos e familiares em Florianópolis. O sambista tem marcado para o sábado um show na cidade, no resort Costão do Santinho. E no domingo deixará a capital catarinense para, na segunda-feira, participar do desfile da Unidos da Vila Isabel.

Para Martinho, compor um samba-enredo é uma emoção diferente que se junta à expectativa da avaliação dos jurados e do público. “Não é uma musica para se cantar individualmente, é para se cantar em grupo. É uma música que não é para se cantar parado, é para se cantar em movimento. Ela tem que empurrar as pessoas, fazer as pessoas vibrarem”, define o músico. “Qualquer compositor, mesmo que não esteja ligado à escola de samba, gostaria de ter um samba na avenida cantado no maior espetáculo da Terra.”

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A expectativa dele para a vitória da Vila Isabel no desfile, claro, é grande. “O enredo é bom – o que é uma coisa fundamental -, as pessoas gostam do samba e a escola está com ele afiado. Mas o carnaval a gente só ganha lá na avenida”, comenta. Em 1988, a Unidos da Vila Isabel foi campeã do 1º grupo do carnaval carioca com um samba-enredo criado por Martinho – “Kizomba – Festa da Raça”.

Martinho afirma que o samba-enredo de agora não é apenas uma exaltação ao “Poeta da Vila”, cujo centenário de nascimento é comemorado neste ano – Rosa é de 11 de dezembro de 1910 -, mas também retrata o Rio de Janeiro do início da primeira década do século passado, com a boemia e o carnaval da época, além de falar de acontecimentos históricos como a Revolta da Chibata e a passagem do cometa Haley, fatos que movimentaram a vida dos cariocas de então.

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E nessa época de carnaval, Martinho fica “envolvido geral” com os preparativos, diz, sorridente. “Todo tempo que eu estou acordado eu penso na escola de samba, no desfile”. Mas também confessa: “Meu sonho é um dia desfilar sem envolvimento, ir lá, comprar a fantasia, entrar numa ala e brincar o carnaval, que é uma coisa que eu não me lembro de ter feito.”