O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza voltou a dizer, no final da acareação realizada ontem na CPI do Mensalão, que o deputado José Dirceu (PT-SP) sabia dos empréstimos para o caixa 2 do PT quando era ministro da Casa Civil. "Que garantias o senhor tinha de que o empréstimo seria pago?", perguntou a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP). "Sílvio Pereira e Delúbio me falaram que o ex-ministro José Dirceu sabia da operação", respondeu Marcos Valério.
Ele fez a revelação na presença de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, suspeito de ser, ao lado do empresário, o idealizador do esquema que ficou conhecido por ‘mensalão’ – o pagamento de mesadas para que parlamentares da base do governo votassem a favor de projetos de interesse do Palácio do Planalto. Já era de madrugada. Tanto os parlamentares quanto os participantes da grande acareação feita pela CPI do Mensalão mostravam muito cansaço.
Dessa vez, ao contrário de outras, o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares não defendeu Dirceu. Ficou quieto quando Marcos Valério implicou mais ainda o ex-ministro com o esquema que vem sendo investigado pelas CPIs dos Correios e do Mensalão e que podem resultar na cassação do mandato de 14 deputados, entre eles Dirceu. Da acareação participaram ainda a gerente financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos, o ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), os ex-tesoureiros do PL, Jacinto Lamas, do PTB, Emerson Palmieri, do PP, João Cláudio Genu, e o ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino. Em sua defesa no Conselho de Ética da Câmara, Dirceu costuma lembrar que Delúbio sempre respondeu que ele não sabia do caixa 2.
Ainda durante a madrugada, Marcos Valério acabou por comprometer também o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolatto. Disse que, ao fazer o repasse de cerca de R$ 2,6 milhões para o PT do Rio de Janeiro, Pizzolatto lhe pediu R$ 326.660,00 à parte. Esse dinheiro foi entregue num envelope. Os parlamentares da CPI suspeitam de que os recursos foram utilizados para a compra de um imóvel.
Delúbio Soares disse que esse tipo de pedido foi atípico e caracterizou uma quebra de hierarquia, porque somente ele, tesoureiro do PT, é que indicava as pessoas para que Marcos Valério entregasse o dinheiro. Delúbio e Marcos Valério disseram que o caixa 2 foi fechado em R$ 55,9 milhões e que os repasses pararam em setembro de 2004. "Meu crédito acabou, esgotou-se", disse o empresário.