A marcha a Brasília do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) avançou mais 20 km hoje em território goiano. E escolheu a fazenda Aroeira, uma área de criação de gado leiteiro, quase na divisa de Anápolis com Alexania, para instalar seu acampamento. Os sem-terra cortaram a cerca e os caminhões, carregados com lonas, estruturas de ferro, colchões e bagagens, entraram no terreno.
Os coordenadores informaram ao caseiro, Edson Rodrigues da Silva, que seria uma ocupação provisória, apenas para passar a noite. "Me assustei muito na hora, mas depois me acalmei", contou. Ele acabou servindo café e água aos sem-terra. As barracas começaram a ser montadas sobre o pasto. O gerente da fazenda, Vilmar Alexandre da Silva, correu para recolher as vacas que fugiram para a estrada.
Depois avisou o dono, Severo Araújo Dias, que estava em Anápolis. Como das outras vezes, o MST não fez contato prévio com o proprietário para entrar na fazenda. "O patrão não sabia de nada. Chegaram de surpresa, romperam os arames e foram invadindo", contou Silva.
O MST entende que não precisa de permissão, pois "é um direito de todos ter um lugar para descansar".
Organização
À exceção das três invasões, uma para cada acampamento, a marcha dos sem-terra completou um terço do percurso de 200 quilômetros até Brasília dando exemplo de organização. Entre os 11 mil participantes que partiram de Goiânia, na manhã do dia 2, para cobrar do governo a reforma agrária, praticamente não houve deserções.
Os participantes que residem na região conseguem permissão para passar a noite em casa, mas precisam retornar para a marcha. "Vou dormir na casa do meu pai em Alexania, mas pego a marcha na saída", disse Alexandre Morais, que já é assentado. "Estou na luta pelos que ainda não têm sua terra."
Na avaliação da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que acompanha a marcha, os transtornos para o trânsito foram menores do que se previa. Hoje, mesmo no trecho de pista única da BR-060 houve apenas lentidão, sem congestionamento.
Também transcorreu sem incidentes o ato público que reuniu 8 mil sem-terra na praça 31 de Julho, em Anápolis, na noite de quinta-feira. "Estávamos preocupados por causa do grande número de pessoas", disse o comandante da Polícia Militar na região, tenente-coronel Alexandre Freitas Elias.
Morte
O incidente mais lamentado pelo MST foi a morte do sem-terra José Altino da Silva Soares, de 66 anos, na quinta-feira, em decorrência de uma crise de hipertensão agravada por ser diabete. O corpo foi transportado para a cidade natal do sem-terra, em Mato Grosso. Durante a jornada de hoje o movimento das ambulâncias da Secretaria Estadual de Saúde, colocadas à disposição dos sem-terra, também foi menor, segundo o motorista Carlos Desteves. "Transportei três pessoas, entre elas uma mulher grávida que passava mal." As mulheres representam quase um terço dos participantes.