Maratona Ecológica Internacional de Curitiba

Admiro as pessoas que são movidas por desafios. Têm coragem para enfrentar aquela tal palavra “impossível”. Quantos feitos foram realizados por homens/mulheres que, simplesmente, acreditaram numa idéia e lutaram até atingirem suas metas. Financeiramente ou fisicamente. Grandes empresas, recordes mundiais, novas tecnologias, medalhas olímpicas. Objetivos traçados e trabalhados. Aprimorados, com altos e baixos, já que nada é fácil e todos podem cometer erros. A diferença está entre falar e fazer. Acreditar no seu potencial e dedicar-se, muito.

No último domingo (17) participei da 6ª Maratona Ecológica Internacional de Curitiba, que reuniu mais de dois mil atletas, de vários estados brasileiros e países como Quênia, Itália, EUA e Argentina. Foi minha segunda prova (a estréia aconteceu em julho, na Maratona de São Paulo), e para isto segui uma rotina diária de treinamento, orientado pelo preparador físico-triatleta-corredor de aventura Sergio Zolino, alternando bike, natação e corrida. Sem contar a alimentação balanceada, importante para repor o gasto de energia do corpo e armazenar combustível.

Em qualquer esporte de resistência, para a maioria, o desafio é pessoal. O cara não está lá pensando na vitória, mas em vencer ele mesmo. Melhorar seu tempo. Não significa que a vitória não possa se concretizar, mas estou falando dos atletas anônimos, aqueles que fazem volume e geralmente cobrem os custos dos organizadores de eventos. São estes ilustres desconhecidos que movimentam o mercado especializado, que comandam a festa.

Meses após meses suando, enfim a prova. Farto café da manhã, muito alongamento e pensamento positivo. O treinamento foi cumprido, chegava a hora. A largada foi dada às 09:20 h, no Centro Cívico, onde passaríamos novamente aos 6 km e na chegada, após 42.195 m. Parti num ritmo confortável, munido de gel (carboidrato), BCAA (aminoácido) e isotônico, que considero importantes numa maratona. Assim como a escolha correta da roupa, meia, tênis e a vaselina nos pés. São detalhes que precisam ser pensados.

O céu ainda estava cinza neste início de prova, mas a alta umidade (88%) já dava sinais que seria mais um obstáculo, juntamente com as inúmeras ladeiras de Curitiba. O negócio era economizar energia e foi o que fiz. Muita água e ritmo moderado. Logo o sol apareceu, para não mais dar trégua. A ordem era fritar (ou cozinhar, se preferir) os atletas. Os termômetros chegaram a registrar 30 ºC na capital paranaense. O desafio prometia.

Passei na meia – 21,1 km – com 02:04 h e corri tranqüilo até o km 30, quando comecei a sentir o desgaste provocado, principalmente, pelo calor. E dá-lhe subida. Curtas, longas, muito inclinadas, mascaradas (aquela que você não percebe). Alimentação e hidratação sob controle, vamos em frente. A garra dos cadeirantes, dos corredores idosos e o incentivo do público, injetavam forças na galera. Às vezes corria ao lado de alguém, para falar um pouco. Algumas frases que lembro foram: “acabei de dar uma cagada”, “me dá um gole desse negócio” (referindo-se ao Gatorade), “essa maratona tá difícil”, “que calor demoníaco”, entre outras.

Gosto de correr sozinho, para manter a concentração. Fui sem problemas até o km 36, mas a esta altura o sol já fazia muitas vítimas. Uma multidão caminhava pelos cantos, enquanto alguns insistiam em manter o ritmo. No Jardim Botânico, senti uma fisgada na perna. Rapidamente tomei um gel e mandei dois comprimidos de BCAA. A cãibra ficou só na ameaça, ainda bem. Fui na regressiva, contando quilômetro por quilômetro. Meu corpo pedia “pare” e minha cabeça dizia “não pare”. Foi uma luta mental forte, que acabou me desgastando ainda mais. Minha freqüência cardíaca máxima atingiu 180 bpm. Pensava: “se está difícil pra mim, também está para os outros”.

No km 39, uma nova subida. Como disse o Henry, estilo “pico da colina”. Bravamente, eu me mantinha correndo. Como foi importante o treinamento, fez a diferença. Faltavam apenas três quilômetros e a expressão na cara dos atletas era de sofrimento. Deveria ser de alegria. Mas realmente estava difícil sorrir. Tentei por algumas vezes. Uma mistura de transe-concentração-exaustão, falava mais alto e atraía outras vontades (sombra, piscina, praia). A maratona da agonia parecia não ter fim. O trecho de paralelepípedo anunciava: quase lá. Quando a placa do km 42 apareceu, uma nova cãibra se manifestou, agora na outra perna, mas também ficou só na ameaça. Levantei a cabeça, agradeci por estar alí naquele momento e cruzei a linha de chegada com 04:13:51 h. Fiquei satisfeito com o resultado. Se o desafio foi grande, maior o motivo para comemoração. Assim devem ser nossas atitudes perante os acontecimentos da vida. Planeje, prepare-se e passe por cima. Algumas situações fogem do nosso controle, como exemplo, neste caso, a temperatura. Mas é preciso minimizar os riscos e aceitar a situação. Enfim, não pense que os seus projetos não são prudentes. É muito mais fácil criticar, a realizar um sonho. Acredite, vale a pena tentar.

Parciais:

06 km – 00:36:10 h
15 km – 01:30:01 h
27 km – 02:39:20 h
37 km – 03:39:01 h
42 km – 04:13:51 h

Agradecimentos: Scott, Zolino, Henry Abreu Jr, Marcos Miyake, os amigos e familiares que dão aquela força. Fernando Fragoso, 25, é navegador e diretor da RALLYBRASIL – www.rallybrasil.com.br

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