Falhas na dosagem ou no horário de tomar antiretrovirais aumentam o risco de o paciente soropositivo ter doenças oportunistas ou desenvolver resistência aos medicamentos. Para tentar vencer o problema, a Sociedade Brasileira de Infectologia lança uma publicação com dicas para driblar as dificuldades e aumentar a fidelidade ao tratamento.
"Sabemos que a adesão à terapia é fundamental para o tratar qualquer doença. Mas no caso da aids a fidelidade precisa ser superior a 95%. Isso quer dizer que pequenas falhas vão comprometer os resultados esperados, aumentando os riscos de infecções oportunistas e de resistência. Ter o medicamento não basta. É preciso que ele seja tomado corretamente", ressaltou Juvêncio Furtado, diretor do Setor de Infectologia do Hospital Heliópolis de São Paulo, e primeiro secretário da sociedade.
Seguir o tratamento corretamente, como prescrito pelo médico, não é fácil quando se trata de horários rigorosos, comprimidos grandes e líquidos amargos. Isso pelo menos duas vezes ao dia. Os maiores entraves são vivenciados, na maioria das vezes, por grupos específicos, como crianças, moradores de rua, idosos, mulheres grávidas e usuários de drogas.
No caso das fórmulas pediátricas, um dos desafios é disfarçar o gosto desagradável do xarope, que faz com que a criança evite a medicação ou, uma vez na boca, a cuspa.
Manual
Feito para profissionais de saúde, familiares e pacientes, o Manual de Boas Práticas de Adesão HIV/AIDS é um livro de bolso que, segundo o infectologista, foi escrito de uma maneira muito clara, baseado em informações de um grupo multidisciplinar, formado por 14 pessoas – médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e farmacêuticos. A tiragem inicial da publicação, patrocinada pela Bristol-Myers Squibb, é de 5 mil exemplares, que serão distribuídos nas unidades de tratamento de soropositivos.
"Não há eruditismo nem termos extremamente técnicos", observou Furtado, destacando a importância de levar mais informações e da maneira mais adequada para combater a disseminação da aids.
"Nem sempre há solução para os problemas, mas há situações em que é possível aumentar a adesão", disse Furtado, lembrando, por exemplo, dos moradores de rua, que nem sempre têm o que comer ou onde guardar a medicação, já que algumas precisam ser mantidas em local refrigerado.