O ministro Guido Mantega descartou nesta madrugada a hipótese de mudanças na equipe que dirige no ministério da Fazenda. Durante entrevista ao programa Roda Vida, da TV Cultura, Mantega disse que os rumores sobre supostos desentendimentos entre ele e o secretário executivo do ministério, Bernardo Appy, não passam de "tentativas de nos intrigar". Ele lembrou que Appy foi nomeado por ele para substituir Murilo Portugal assim que assumiu a pasta, e que a carreira de ambos foi em parte feita no PT.
De fato, embora tenham se intensificado os rumores sobre mudanças na equipe econômica, na realidade nada existe de concreto a respeito do assunto. Os boatos de que têm sido alvo os dois principais assessores do ministro, Appy e o secretário do Tesouro, Carlos Kawall, no entanto exprimem o desejo de uma corrente do governo interessada em remover obstáculos à implementação de uma política menos rígida do ponto de vista fiscal, e que abra o caminho para mais investimentos estatais.
A entrevista do ministro ao Roda Viva foi reveladora, nesse aspecto, porque ele se portou com a segurança de quem sabe que continuará no cargo no segundo mandato. Além de falar com entusiasmo sobre o pacote de medidas que o governo pretende anunciar quinta-feira, Mantega foi afirmativo ao garantir que se tivesse qualquer tipo de desentendimento com seus subordinados não hesitaria em demiti-los. "Nós somos amigos", disse ele sobre suas relações com Appy.
As especulações sobre mudanças na equipe sugerem, porém, que a nomeação de uma equipe afinada com o programa desenvolvimentista encomendado pelo presidente Lula seria um desejo do ministro Mantega, que aguardaria somente a sua confirmação oficial no cargo para trocar seu secretário executivo. Atribui-se a Appy, nessas especulações de bastidores, a criação de um foco de resistência na área econômica às medidas a serem anunciadas. Kawall é mencionado porque o teria apoiado.
Mantega deu a entender na entrevista que, se existiram dificuldades no time econômico, estas já teriam sido superadas. Segundo fontes do governo, o ministro estaria trabalhando sem atritos com os dois auxiliares. Da mesma forma, não seria verdade que pretenderia afastar Appy para considerar a sua pasta totalmente livre da influência do ex-ministro Antônio Palocci, do qual o secretário foi um dos homens de confiança. Segundo essas fontes, Mantega se aconselha com Palocci com mais freqüência do que se imagina.
O futuro de Bernardo Appy e Carlos Kawall no governo se tornou referência para os analistas do mercado. Atribui-se à presença de ambos na Fazenda um seguro contra a adoção de medidas comprometedoras do equilíbrio fiscal do setor público. Considera-se que a eventual demissão dos dois, ou somente de Appy, por causa de divergências conceituais na condução da política econômica, afetaria a credibilidade da equipe remanescente.