Sempre favorita, a Mangueira desfilou um enredo sobre a língua portuguesa em que não faltaram alegria e graça. A escola, que deixou a Sapucaí saudada como campeã, levou para a avenida a evolução da língua desde sua origem, na Europa, até sua mais bela tradução, em músicas como as de Cartola.

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Preta Gil, a rainha da bateria de mestre Russo, disse a que veio sambando bonito, não fosse mulata legítima – "sou filha de branco com preto; meu nome é Preta", dizia, na concentração. Nem as ausências de Jamelão, que não pôde interpretar o samba por motivo de saúde, e de Beth Carvalho, expulsa grosseiramente do carro em que desfilaria, por um baluarte da Verde-e-Rosa, tiraram o brilho da escola.

A história de nosso idioma foi contada a partir dos romanos, passando pelos portugueses que colonizaram o Brasil, os índios e os africanos, até chegar ao Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. A graciosa comissão de frente, sob a regência sempre carinhosa de Carlinhos de Jesus, conquistou a todos: vestida com uma roupa versátil, ora se mostrava como Luis de Camões, ora como senhorinhas portuguesas, dançando o "vira". Os 16 integrantes bailavam com grandes livros nas mãos, em que exibiam letras. Elas formavam palavras exibidas ao público – que, como acontece todos os anos, balançava bandeirinhas distribuídas pela agremiação.

As alas vieram coreografadas e as fantasias, muito bem acabadas. Os carros, representando o Coliseu romano, as florestas dos índios, a África, eram grandiosos, porém não mostravam novidades. O samba empolgou a platéia, que gritava "sou Mangueira" aos brados.

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Quem cantou foi Luizito, o substituto de Jamelão, contrariando ordens médicas (ele sofreu um infarto há semanas). O cantor Emílio Santiago, estreante, reforçou o grupo, composto ainda por mais cinco puxadores.

Preta Gil protagonizou o momento mais emocionante do desfile. Aos prantos, correu para o pai, o ministro Gilberto Gil, quando o avistou junto ao recuo da bateria. Deu-lhe um selinho, um abraço forte e seguiu adiante. "Pai, eu te amo!", gritou. Gil era só orgulho. "Ela sempre foi assim, desde criança. Montava um palquinho lá em casa e ficava horas e horas." Antes de pisar na Sapucaí, Preta, que vestia um maiô verde e rosa repleto de brilhos, deu seu recado contra o preconceito. "Sou uma mulher brasileira. Tenho estria, sim, tenho celulite, sim, como muitas têm. Estou aqui para ser feliz.

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