Durante o depoimento da secretária Fernanda Karina Somaggio na CPI Mista dos Correios, no Congresso Nacional, o senador e ex-governador do Rio Grande do Sul Pedro Simon fez uma intervenção que merece ser considerada, porque oportuna e em respeito a um parlamentar e político brasileiro de longa história de honestidade e prestação de bons serviços ao seu estado e ao País.
Fernanda Karina foi secretária de Marcos Valério, empresário do ramo de publicidade de Belo Horizonte, acusado de ser o coordenador da distribuição do mensalão, dinheiro que comprava votos e apoio ao governo Lula, em quantias da ordem de R$ 30.000,00 mensais para cada parlamentar vendilhão. Dinheiro do povo embolsado por deputados e até senadores, para votarem com o governo, quando sua obrigação era e é votar de acordo com suas consciências e o interesse público, remunerados somente com os vencimentos de seus cargos eletivos, que não são pouco.
A secretária depõe contra seu ex-chefe, dando às autoridades e organismos investigatórios indícios veementes de autoria e indicações de possíveis envolvidos nesse que é um dos maiores, senão o maior escândalo já havido na República. Por depor, Karina foi espicaçada por parlamentares do PT. Autoridades como a senadora Ideli Salvati, do PT de Santa Catarina, fizeram de tudo para amedrontar a testemunha e desqualificar seu depoimento. A mesma técnica foi utilizada contra secretária antecessora dela, que, amedrontada, já declarou que não vai mais depor contra os indigitados pela autoria das negociatas.
O senador gaúcho Pedro Simon, com a autoridade que tem e merece, condenou esse procedimento, dizendo que Karina e outras pessoas do povo que se apresentam, com coragem, denunciando e testemunhando contra os poderosos, merecem o respeito e o agradecimento da nação. Há a circunstância bastante estranha de que esta depoente está sendo processada por seu ex-empregador e chefe, publicitário Marcos Valério, empresário com intimidade promíscua com o poder, sob a acusação de tentativa de extorsão.
É muito estranho que possa existir extorsão contra alguém que seja efetivamente inocente das acusações que sobre si pesam. Se inocente, não há como ser vítima de tentativa de extorsão, pois nada existiria para pressioná-lo. Para que uma pessoa seja vítima de extorsão, praticada ou tentada, é preciso que tenha praticado algum ato escuso ou guarde segredos inconfessáveis.
De qualquer forma, não importa. Vale a defesa que fez Pedro Simon, dizendo que ela presta um serviço ao País, expondo-se diante de poderosas forças que a ameaçam para denunciar as negociatas que envolvem políticos e altos funcionários do governo e de empresas estatais. A história pessoal de Karina não está em exame nem em jogo e, mesmo que importe, não podemos nos esquecer que até um delinqüente, quando diz a verdade, verdade será. Ou, como sentenciou certa vez um deputado e religioso paranaense: ?A verdade é verdade até na boca do diabo?.