Termina a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Cartões Corporativos e o Brasil observa, estupefato, que nada foi resolvido. Com maioria governista, o relatório foi aprovado sem problemas, e não denuncia ninguém sobre os supostos gastos excessivos com os cartões seja dos atuais ocupantes de cargos públicos, seja dos anteriores. E mais: nada sobre as informações sigilosas do governo Fernando Henrique Cardoso, o tal ?dossiê? que seria, na conta do governo, apenas um ?banco de dados?.
Como talvez fosse de se esperar, nova pizza foi para o forno. Os acordos e conchavos da política em Brasília jogaram por terra duas possíveis implicações da CPMI.
A primeira seria a confirmação que dinheiro público está sendo usado indiscriminadamente com despesas pessoais. E isto teria que ser punido com muito rigor. Pensemos: se nós, em nossos trabalhos, pegarmos dinheiro para viajar e gastarmos com roupa, somos demitidos, certo? Ou se pedirmos dinheiro emprestado para nossos pais (ou esposa ou marido ou qualquer outro parente) garantindo que é para pagar a mensalidade do colégio e usamos em bobagens somos repreendidos, certo? Na política brasileira, nada acontece.
A segunda seria a descoberta definitiva que a ?arapongagem? continua correndo solta na República. O vazamento de dados de gastos do governo FHC é uma história que talvez nunca seja descoberta, e parece que os políticos brasileiros nem se preocupam com a gravidade desta história. O caso se tornou uma simples briga entre oposição e situação, e o fato em si – a possível manutenção de um esquema de espionagem ?estatal? – ficou em último plano. Esta busca precisa ser retomada com urgência.
A sociedade novamente fica indignada, mas nem reage com veemência. É tanto o desalento com a classe política que as reações são cada vez menos perceptíveis. Não se vê em número suficiente os políticos que se interessem com causas sociais e com a honestidade e a ética pública. Para os outros, a resposta está próxima, virá em outubro no peso do voto de cada cidadão.