Quantos partidos existem no Brasil? Poucos sabem, a não ser que se faça uma pesquisa minuciosa. São muitos, demasiados. Entendendo-se partido como uma associação política reconhecida pela legislação vigente, destinada a compartilhar da vida pública dos municípios, estados e do País, há que exigir tenha pelo menos um conjunto de idéias comuns e programas estudados e elaborados. Afinal de contas, um partido político pode tentar, e alguns conseguem, solitários ou através de coligações, assumir o poder.

A inexistência de ideologias e programas ou, mesmo existindo, a falta de compromissos com eles, além de interesses outros, fizeram com que os partidos se multiplicassem. Eles são quantitativos e não qualitativos. Existem na medida em que seus organizadores conseguem um determinado número de assinaturas para sua constituição e enfrentam a chamada lei de barreira, que exige tenham um determinado número de legisladores eleitos. Quanto a terem ideologias e programas, fica no papel. Há adeptos do capitalismo em partidos socialistas; socialistas em partidos liberais. Enfim, uma salada de idéias muitas vezes tão distintas que não se misturam. São como a água e o azeite. Mas, como lubrificam a ascensão ao poder, resistem e persistem. E vencem, como é o caso da atual coligação que alcançou o governo do Brasil.

A fidelidade partidária, reivindicada por alguns, seria um dos instrumentos depuradores desse atual quadro partidário, que tanto mal tem feito ao Brasil. Mas ela, como tantas outras idéias, dentre elas o voto distrital e cláusulas de compromissos com os eleitores, que, se não cumpridas, provocariam punições aos mandatários, dormem nos fundos das gavetas ou aparecem, de vez em quando, apenas como sonhos delirantes.

Os partidos são muitos, principalmente porque existe a propaganda eleitoral gratuita na televisão e nas emissoras de rádio. Isso recomenda que se tenha uma legenda para usar, emprestar, negociar com a moeda do poder ou até vender pura e simplesmente. Quem comanda uma sigla tem, em mãos, uma cartela premiada da sena e fará, com ela, se o desejar, muito dinheiro. Na atual administração, assistimos ao absurdo dos absurdos. Políticos ideológica e programaticamente fiéis ao partido situacionista, o PT, serem dele expulsos por seguir ideológica e programaticamente o que a agremiação pregava. Foram eles a senadora Heloísa Helena, de Alagoas, os deputados Babá, do Pará, João Fontes, de Sergipe, e Luciana Genro, do Rio Grande do Sul, esta filha de Tarso Genro, um ministro de Estado da atual administração. O pecado capital de todos eles foi terem insistido e votado em reformas, de acordo com a programática petista, enquanto a cúpula partidária decidia votar de maneira oposta, virando as costas para uma pregação de 24 anos de existência do partido.

Neste final de semana, este pequeno número de excluídos, erroneamente apelidados de “radicais”, funda no Brasil um novo partido. Parece que não será uma sigla a mais, mas uma agremiação de verdade, socialista como dizia ser o PT, e que vai tentar ultrapassar a cláusula de barreira para sedimentar-se no quadro político nacional. Mesmo que não concordemos com a pregação do novo partido socialista e às suas idéias nos oponhamos, temos de reconhecer que não vem para ser uma sigla a mais. Vem para melhorar o quadro político-partidário que está necessitado de uma profunda depuração, para que as agremiações assumam e cumpram compromissos com o povo.

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