Brasília – De novo com baixa presença, o que sempre beneficia o acusado, a Câmara absolveu hoje o deputado Josias Gomes de Souza (PT-BA). Ele confessou ter recebido pessoalmente R$ 100 mil das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, sendo uma parcela das mãos do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e outra na agência do Banco Rural do Brasília Shopping. O dinheiro, segundo ele, foi utilizado para o pagamento de dívidas da campanha de 2002.
Josias obteve 190 votos pela salvação de seu mandato; pela cassação, votaram 228. Essa maioria não foi suficiente para a perda de mandato, porque para a cassação são necessários 257 votos (a maioria mais um). Houve ainda 19 abstenções, 5 votos em branco e um nulo. Votaram 443 dos 513 deputados. Portanto, faltaram 70.
Curioso é que, de todos os acusados por envolvimento com o mensalão, Josias foi o único que entregou ao banco a carteira de deputado, para comprovar que era ele mesmo quem retiraria o dinheiro. Ele transformou esse detalhe em peça de sua defesa. "Eu próprio fui ao Banco Rural. Jamais poderia imaginar que era dinheiro de origem ilícita. Entregar a carteira de parlamentar seria um procedimento de quem recebe importância ilícita?", perguntou Josias ao plenário, pouco interessado em ouvi-lo naquele momento. Havia pouco mais de 200 deputados presentes quando o parlamentar fez a sua defesa.
Josias foi o décimo dos 19 parlamentares acusados de envolvimento com o mensalão a ser absolvido pelo plenário da Câmara. Antes dele livraram-se da degola João Magno, João Paulo Cunha (PT-SP), José Mentor (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT), Professor Luizinho (PT-SP), Roberto Brant (PFL-MG), Romeu Queiroz (PTB-MG), Sandro Mabel (PL-GO) e Wanderval Santos (PL-SP).
Somente três foram cassados: Roberto Jefferson (PTB-SP), que denunciou o mensalão; o ex-ministro José Dirceu (PT-SP), apontado como o responsável pelo esquema; e o presidente do PP, Pedro Correa (PE). Renunciaram para fugir do processo de cassação os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PL-SP), Carlos Rodrigues (PL-RJ), José Borba (PMDB-PR) e Paulo Rocha (PT-PA). Falta ainda o julgamento de José Janene (PP-PR) e Vadão Gomes (PP-SP).
O deputado Josias Gomes da Silva disse que sempre foi muito pobre. Dos oito irmãos, afirmou, somente ele e um outro fizeram curso superior. "Quando estudante, na Paraíba, plantava coentro e criava galinhas para sustentar meus estudos". Disse que foi durante o curso de Agronomia, em 1980, que teve contato com o PT E revelou que o dinheiro do crédito educativo que recebia ele usou nas campanhas de filiação petista. "Corri o Estado inteiro. Pegava o dinheiro do crédito educativo, deslocava-me para as cidades para fazer filiação e, lá, fazia vaquinha para eu voltar de novo para o município de Areia".
Para Josias, não houve mensalão. "Isso tudo é um factóide da mídia, que o chama de mensalão. Jamais se fundamentou na lógica" Para contestar o mensalão, disse que passou a ser acusado de receber importância em dinheiro para votar com o PT, o que para ele é um absurdo completo. "Defendo hoje esse governo com o mesmo ímpeto com que o defendi durante toda minha vida".
O deputado Mendes Thame (PSDB-SP), relator do processo contra Josias, disse que ele recebeu o dinheiro em 2003, fora da campanha eleitoral, que ocorreu em 2002, embora ele tenha alegado dívidas daquele tempo. Mas, ao comparecer à agência do Banco Rural, Josias retirou R$ 10 mil para pagar dívida que tinha com um parente, por serviço de som. "Isto é contraditório, porque o deputado disse que havia pedido dinheiro ao Diretório Nacional do PT exclusivamente para pagar dívidas de campanhas de companheiros não eleitos", disse Mendes Thame.