O presidente Lula disse que vê com muita naturalidade as manifestações do MST, e apelou para que os movimento não perca o senso de responsabilidade.

Vê com naturalidade a declaração de um abril vermelho, ameaças feitas pelas lideranças do movimento, passeatas, interrupções de estradas e invasões. Invasões de terras multiplicando-se todos os dias. Centenas de famílias de agricultores sem-terra e de trabalhadores urbanos desempregados, invadindo propriedades públicas e privadas, improdutivas e muitas produtivas. Não raro com depredações e descumprindo ordens judiciais.

Lula vê com muita naturalidade as manifestações do MST porque sempre esteve próximo ou até trabalhando integrado com o movimento, como líder sindical e dirigente político. Essa naturalidade hoje é um pouco diferente daquela dos tempos em que ainda não era presidente da República. Como autoridade máxima do País, lhe cabem providências que contrariam seus ideais de justiça social. O que Lula e os governadores estão enfrentando e o Brasil está assistindo é uma explosão de revoltas que vão das invasões organizadas dos movimentos dos agricultores sem-terra e os sem-teto, às greves, inclusive nos serviços públicos. E a tomada, à força, de prédios desocupados nas cidades, inclusive um quartel desativado da polícia paulista, esvaziado “manu militari” pela Polícia Militar.

Já falamos da gravidade dos dados recém-fornecidos pela Fundação Getúlio Vargas, que mostra que um terço da população brasileira vive abaixo da linha de pobreza. E também das advertências da Igreja sobre os riscos de convulsões sociais, em razão da manutenção e aumento dos altos índices de pobreza em todo o território nacional, bem como a multiplicação dos desempregados, mal que bate recordes sobre recordes. Dois desempregados já puseram fogo no próprio corpo, defronte o palácio presidencial, um deles morrendo queimado. Tinham a intenção de protestar e o desejo de falar com o presidente sobre seus problemas. Um deles foi dado como louco. Louco é este Brasil de tanta miséria! E loucas as autoridades que não se indignam com a terrível situação de pobreza que tão grande parte de nossa população vive e não providenciam para, no mais curto espaço de tempo possível, se não resolver, pelo menos amainar tão doloroso e vergonhoso quadro.

Em Rondônia, garimpeiros invadiram ilegalmente terras indígenas em busca de diamantes. Esse ato criminoso vem sendo tolerado há quatro anos e também tem, como causa, o problema social, pois esses garimpeiros estão tentando alguma forma de sobrevivência para si e suas famílias. As autoridades, às quais caberia proteger os índios e suas terras, não o fizeram. E há quem diga que até facilitaram as invasões. O resultado foi um massacre que já contabiliza 29 mortes de garimpeiros pelos índios revoltados. Agora se discute a imputabilidade ou inimputabilidade dos silvícolas que mataram garimpeiros. É um debate recorrente, mas a omissão do poder público e a miséria é que são as verdadeiras responsáveis.

As autoridades governamentais não se convenceram, ainda, que não se pode ver com naturalidade tais fatos e que a responsabilidade que se recomenda aos movimentos sociais deságua na inescapável obrigação de cumprir as leis. Invadir é crime, seja em terras dos índios ou em fazendas de ricos latifundiários. Ao governo (via Congresso) cabe cumprir as leis. E fazê-las boas e eficientes, atendendo às necessidades da nação, que começam pela solução dos problemas sociais.

continua após a publicidade

continua após a publicidade