O Copom do Banco Central decidiu começar o ano subindo os juros. Esta é a quinta alta consecutiva. Agora, foi de 17,75% para 18,25% ao ano. É taxa básica, pois aquela que a gente paga na financeira ou no banco é mais alta, pois vai somando impostos, "spread" e segurança contra o risco do calote.
Nas vésperas da decisão de alta dos juros pelo Copom, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) queixou-se dos resultados das vendas de 2004. No ano passado, o setor faturou R$ 97,7 bilhões, um aumento real, descontada a inflação, de apenas 2,5% em relação a 2002. Os supermercados não acompanharam o melhor desempenho do resto da economia, que teria crescido 5% do PIB e a expansão da produção industrial, de 10%.
A Abras esperava um incremento de 3% nas vendas e culpa a alta dos juros pelo fracasso. Acha que, entre outros fatores, há o psicológico. Tanto o consumidor, quanto o empresário, ficaram mais cautelosos e reduziram as compras. A entidade também responsabiliza as tarifas públicas pelo crescimento menor das vendas. Os preços administrados pelo governo foram os que mais subiram e afetaram os bolsos do consumidor. No mais, não houve uma recuperação do nível de emprego, como se anuncia, e a massa salarial não tem crescido como reclamado e necessário.
Considere-se que, quando revela dados positivos, seja em propagandas oficiais ou noticiário, o governo costuma pintar tudo cor-de-rosa. Faz um jogo de números, como já nos referimos neste espaço, dando a ilusão de que tudo vai muito bem, obrigado.
Os supermercados ameaçam subir os preços se os impostos aumentarem. Via medida provisória, a de número 232, no apagar das luzes de 2004, quando anunciava um novo mínimo e uma pequena atualização na tabela de retenção do Imposto de Renda, duas notícias positivas para os trabalhadores, o executivo decidiu elevar a base de cálculo do Imposto de Renda das Empresas e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, para prestadores de serviços, de 32% para 40%.
A justificativa para o aumento dos juros básicos é a mesma de sempre. Conter a inflação, que, embora apresentada como razoável, estourou as metas e ficou dentro dos índices considerados toleráveis.
Ousamos, mais uma vez, duvidar. Tudo indica que as altas taxas de juros visam é atrair o capital estrangeiro, pois entre os países captadores de recursos, embora já com um risco-país menos amedrontador, o Brasil continua entre os que são considerados territórios de risco. E acaba de ser revelado que a dívida externa aumentou no ano findo.