O Brasil pretende que tenha avançado no aperfeiçoamento de sua democracia, ao introduzir um quantum mínimo de vagas para mulheres nas chapas de candidatos às eleições. Da mesma forma, quando reserva vagas em concursos diversos para negros, a fim de impulsionar a ascensão dos afro-brasileiros através de uma discriminação positiva. São meios e não fins, pois numa democracia plena tais expedientes devem ser dispensáveis, pois todos são iguais perante a lei. E espera-se que também iguais perante os demais cidadãos, a sociedade e suas estruturas e instituições públicas e privadas.
Sabemos que isso não é verdade. Que há desigualdade, discriminação e disso resultam amargas conseqüências para os injustiçados e privilégios para os pertencentes às raças, sexo e camadas sociais que se arvoram com mais direitos que os demais. Por isso, apoiamos a chamada discriminação positiva e a ela já nos referimos, tanto no que se refere às raças minoritárias, como às mulheres, que nem sequer preenchem as vagas que por lei lhes são reservadas nas chapas eleitorais dos partidos políticos.
Evidenciando um incrível paradoxo, o Tribunal Superior Eleitoral acaba de confirmar que a maioria do eleitorado brasileiro é composto de mulheres. Segundo os dados, temos 58.610.906 mulheres aptas a votar nas próximas eleições. E menos do que isso, 56.443.272, ou 48,96% do total, de eleitores homens. Os dados não computam 217.595 eleitores que não informaram o sexo à Justiça Eleitoral.
Tais dados, desde a reserva de vagas para candidatas mulheres até a revelação de que elas são maioria no eleitorado, evidenciam uma situação paradoxal. O lógico seria que elas também fossem, se não maioria, pelo menos número expressivo como candidatas para as próximas eleições, superando o mínimo de vagas que a lei manda lhes reservar, que é de 20%. Mas tal não acontece e ocorre exatamente o contrário. Quais as razões disso?
Com certeza, há estudiosos debruçados sobre o assunto e, no momento, menos para saber e mais para aproveitar. Marqueteiros de campanha buscando tirar proveito dos números revelados. Ao que tudo indica, por trás do paradoxo está o machismo, que ainda transforma a política em seara dos homens. A política e a maioria dos postos de comando, inclusive na iniciativa privada. Machismo que leva ao fato constatado de que a massa trabalhadora feminina ganha menos que a dos homens. Machismo que, em várias camadas da nossa sociedade, ainda coloca a mulher como subordinada ao homem, inclusive na união conjugal, embora isso não mais seja referendado pela legislação civil. A igualdade entre os homens e as mulheres ainda é uma bandeira e não uma efetiva conquista.
Esse machismo é alimentado inclusive por mulheres ainda não conscientes da amplitude de seus direitos. São aquelas que não militam na política porque consideram isso assunto de homens. São as que, em grande número, declaram que não votam em mulheres. É hora de as líderes feministas conscientes levantarem o problema, mostrando que há igualdade de direitos, mas também de responsabilidades. Que não se legitimam direitos quando não se assumem responsabilidades. E as mulheres são, com os homens e não subordinadas a eles, responsáveis pelo futuro deste País. Se ruim, que não seja pela omissão da maioria feminina.