O Copom (Comitê de Política Monetária), colegiado ligado ao Banco Central, surpreendeu desagradavelmente o mercado ao manter a taxa Selic, juros básicos da economia, em 16,5%. Não caíram um centímetro, o que nos garante continuar com o troféu de país com as maiores taxas de juros reais do mundo. Juros reais, é bom que se explique para os leigos, que, verdadeiramente, são a maioria do explorado povo brasileiro, são os que não incluem a taxa de inflação. Quando se fala que cobram juros, estão cobrando juros mesmo e mais uma correção monetária relativa à inflação.

Um governo dura quatro anos, apesar da possibilidade, nem sempre auspiciosa, de reeleição, pois ela pode significar mais quatro anos de má administração. Do seu mandato, o atual governo federal já consumiu o primeiro ano pouco fazendo, a não ser esforços para recuperação do conceito do Brasil no mercado financeiro internacional, que andava abaixo de rabo de cachorro. Como? Nada fazendo, a não ser economia, do que resultou recessão e recordes de desemprego. É possível, e até provável, que essa política de nada fazer, ou melhor, repetir o que fazia o governo FHC, só que em dose mais forte, seja um caminho elegível, apesar das penas a que submete a população.

Os juros altos, ditados via Selic (que é a sigla de Sistema Especial de Liquidação e Custódia, criado com o objetivo de tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos e serve como leme para o custo do dinheiro), podem ser utilizados para encher os bolsos dos banqueiros e dos ricos ou, como argumenta o governo, para segurar a inflação.

Essa doença não ataca só o Brasil, e aqui, embora ocorram alguns surtos, sabe-se que não é assustadora. O próprio governo fala em haver controlado o fenômeno, que externamente se expressa na alta de preços. Mas o remédio para a inflação, que estaria controlada e relativamente baixa, continua sendo a manutenção dos juros altos. Ou melhor, os mais altos do mundo, troféu de que parece não iremos abrir mão.

Há quem afirme, e os fatos parecem comprovar, que a nossa inflação resulta da especulação, do desperdício de produtos perecíveis, da falta de adequada competitividade no sistema produtivo e comercial. Resulta também da retração do mercado, o povo deixando de comprar porque seu dinheiro encolheu ou desapareceu com o desemprego. Isso causa também a estagnação econômica ou a recessão, que é andar para trás. E, no final das contas, o desemprego que só agrava o problema.

Tendo ficado na moita todo o seu primeiro ano de mandato, restando três apenas, e depois de mais de um anúncio da vinda do milagre do desenvolvimento, o governo parece desperdiçar também o primeiro mês do seu segundo ano, deixando os outros onze para fazer alguma coisa. Tem, portanto, três anos e onze meses para fazer tudo o que prometeram os seus homens, durante mais de duas décadas. Politicamente, e mesmo em termos econômicos, tudo o que se esperava era o Copom ditando mais uma queda de juros, mesmo que pequena, depois de tantas outras que promoveu nos últimos meses. Instilaria alguma confiança no mercado. Senão confiança, pelo menos esperança. E interromperia o ritmo descendente do conceito público da atual administração. Mas escolheu outro caminho, o de continuar andando para trás. Mas, como a esperança é a última que morre, tomara que não faleça no final do quarto ano de governo. Ou antes.

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