Acusado de mentiroso e corrupto, mas amparado por um habeas corpus preventivo, o ex-tesoureiro do PT prestou o mais longo depoimento à CPMI dos Correios. Um dos inúmeros constrangimentos a que Delúbio submeteu-se de moto próprio, porque continua escondendo quem lhe dava ordens, foi quando a deputada Denise Frossard (PPS-RJ) perguntou-lhe se conhecia alguma prisão brasileira.
Delúbio não disse mais do que se sabia, mas reiterou que o PT utilizou dinheiro não contabilizado – recusou-se a usar a expressão caixa 2 – para saldar dívidas da campanha anterior e financiar a de 2004 em vários estados. O dinheiro teria vindo de empréstimos negociados por Marcos Valério, cuja benevolência ilimitada em agir como mecenas do PT aos poucos vai sendo decifrada pelos integrantes da CPMI.
O ex-tesoureiro declarou ainda ser responsável pessoal pela formidável quantia de R$ 40 milhões repassada ao partido pelo publicitário, montante que chega a R$ 90 milhões se acrescido dos juros.
Ora, se Delúbio assume ele mesmo a dívida monstruosa e reconhece que precisa saldá-la, a presunção é de estarmos diante de alguém extremamente rico e, mais, de um sacripanta que não mede as conseqüências de atirar dinheiro pela janela. Se assim não fosse, como se explicaria o fato de Marcos Valério ter confiado toda essa dinheirama a um simples funcionário de partido?
A cúpula petista não sabia de nada e tampouco o presidente da República. A movimentação das finanças partidárias foi um segredo muito bem guardado por poucas pessoas. Figuras ilustres somente souberam do esquema quando as denúncias de Roberto Jefferson foram sendo confirmadas com todos os requintes duma trama desvendada pelo inspetor Maigret.
Ninguém subestima a semelhança entre a gestão financeira do PT e a casa da mãe Joana. Tal impressão torna-se, todavia, espantosa e inaceitável quando se sabe que as agências de Marcos Valério tinham negócios vultosos com estatais do porte do Banco do Brasil e Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
Um frágil liame ainda nos separa da verdade cabal, mas tudo indica que logo ele será rompido. A deputada Denise Frossard, juíza aposentada, em frase lapidar afirmou que muitas vezes o ?sim? é percebido quando as pessoas dizem ?não?.