Brasília – O Brasil tem nesta hoje cerca de oito mil crianças e adolescentes em condições de serem adotadas. O número representa 10% dos 80 mil jovens que vivem abrigos em todo o país. Os outros 90%, apesar de viverem nessas unidades, não são órfãos e não estão aptos para a adoção.
As informações são da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que lançou nesta quarta-feira (23), no Rio de Janeiro, a campanha "Mude um Destino", para conscientizar a sociedade dos problemas enfrentados pelas crianças abrigadas e estimular a adoção.
Segundo o coordenador nacional da campanha, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Florianópolis (SC), Francisco Oliveira Neto, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 87% das crianças e adolescentes que vivem nos abrigos não são órfãs, e desse total, cerca de 60% delas recebem visitas regulares de seus
familiares.
"A pobreza é a principal causa [desse problema]. Essas crianças não estão em abrigos por falta de afeto nem por falta de amor de seus pais, mas sim por causas ligadas à miséria. Elas estão lá para poder comer, para ter uma vida com mais dignidade", explicou o juiz.
A campanha lançada hoje também visa estimular uma melhoria nas condições dos abrigos. Duas cartilhas foram elaboradas e serão distribuídas em todo o país pelas associações regionais dos magistrados. Uma delas é voltada para os gestores dos abrigos, que terão informações sobre o que a lei estabelece como direito e dever dessas instituições.
A outra cartilha, Adoção Passo a Passo, é destinada a pessoas que querem adotar uma criança. A proposta é derrubar o mito de que o processo de adoção no Brasil é lento e burocrático. O juiz Francisco Oliveira Neto explicou que a documentação exigida para adotar uma criança é a mesma solicitada para se abrir um crediário.
"A pessoa que quer adotar tem que procurar o Juizado da Infância e Juventude da sua cidade, onde serão solicitados os mesmos documentos que são solicitados para abrir um crediário, ou seja, certidão de nascimento ou de casamento, comprovante de residência e de renda. Nosso objetivo não é saber se a pessoa é rica ou pobre, mas sim se ela tem condições mínimas de acolher mais uma pessoa. Queremos ter a certeza de que a criança não vai sofrer um novo abandono", explicou Oliveira Neto.
A campanha da AMB também dará prêmios em dinheiro para os abrigos que enviarem, até o dia 1 de julho, os melhores trabalhos de inclusão das crianças e que promovam melhorias nos abrigos.