Mafuá de arrabalde

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, insistiu a semana toda na afirmação de que não conseguia enxergar nenhuma crise política no País. Mesmo diante do embate aberto travado no Congresso por situação e oposição, em torno da CPMI dos Correios, risco que o governo Lula teme como o diabo à cruz.

Apesar da dimensão elefantina do entrechoque de interesses imediatos instalado hoje nas altas esferas de poder, Dirceu faz-se de desentendido e, valendo-se duma circunstância favorável do ambiente, talvez a última à sua disposição, imita a avestruz e enterra a cabeça nas fofas areias do planalto central.

Figuras importantes das bancadas federais do PT assinaram o requerimento de implantação da CPMI, mas isso nada significa para os exegetas do governo. O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) empenha sua autoridade para afirmar que a investigação precisa ser feita, e a posição é corroborada pelo procurador-geral da República, mas isso também não impressiona.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que não é homem de tomar medidas populistas em véspera de eleição, garantindo que há muita gente de maus bofes Brasil afora, azedada por exces-so de secreção gástrica, só por-que algumas coisinhas insignificantes (desemprego, fome, corrupção, criminalidade…), estão fora de controle. Haja torrentes de chá de boldo chileno e catuaba.

Não bastasse o estratégico estrabismo do chefe da Casa Civil, a agitada semana de Brasília findou com a greve dos servidores do Ibama, Funasa, Incra, Funai, AGU e INSS, com reflexos inevitáveis em todos os estados. Funcionários públicos federais reivindicando reposição salarial após mais de dez anos sem qualquer reajuste.

A decisão pela greve foi o protesto dos servidores ao extraordinário espírito de compreensão e respeito humano demonstrado pelo governo, ao propor 0,1% de reajuste, ou seja, apenas um décimo de ponto percentual dos 18% da reposição emergencial solicitada.

Não há crise nenhuma no País, sustenta Dirceu, que transforma o mafuá de arrabalde num vasto campo cheio de flores.

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