Mães que passeavam neste domingo pela Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio, receberam "uma homenagem de uma vítima da violência, com muito amor e carinho". A frase foi repetida várias vezes pela dona de casa Rosa Helena Alves Mesquita, de 54 anos, que perdeu a filha Clarisse Alves Mesquita, de 26 anos, em outubro do ano passado, vítima de bala perdida.
Ela e o marido, Jorge Perdigão, chegaram às 9 horas carregando cerca de mil rosas e começaram a distribuir as flores uma hora depois, no Parque dos Patins. Rosa vestia camiseta preta com uma foto da filha no peito e a frase "Pela Paz" nas costas. Ela disse que queria aliviar a dor, no primeiro Dia das Mães sem a filha, levando carinho a outras mães
"Esta homenagem é a forma que eu tenho de me manifestar, de pedir que as autoridades encontrem uma solução para a violência, para que outras mães não sofram como estou sofrendo. Preciso de paz no meu coração", declarou Rosa, muito emocionada.
A empregada doméstica Cristina Almeida, de 38 anos, mãe de Priscila, de 21 anos, e avó de Catarina, de 2, recebeu uma rosa vermelha da mãe de Clarisse. "Nesse momento não há muito o que dizer. O que eu falei para ela foi que Deus é o juiz de todos, para ela entregar na mão dele, porque a causa não é dela", comentou Cristina, que é evangélica. "Só ela e Deus sabem o que ela está passando".
Clarisse foi atingida na cabeça quando participava de uma festa na cobertura de um prédio, na Tijuca, zona norte do Rio, em setembro de 2006. Morreu no início de outubro. Ela era professora e havia se casado um mês e meio antes com André Moreira. Segundo ele, a polícia tratou a morte com descaso.
"A morte da minha mulher foi provocada, provavelmente, por um vizinho. Ela foi atingida por uma bala de calibre 45. Mas como não foi feita perícia no local, acho que nunca vamos descobrir quem foi o responsável. Para a polícia, em vez de investigar, é mais fácil classificar o caso como sendo de uma bala perdida", disse o viúvo de Clarisse, que também participou da manifestação.
No fim de março, a Secretaria da Segurança divulgou pela primeira vez uma estatística de vítimas de balas perdidas no Estado, com dados retroativos a 2006, quando 19 pessoas morreram e 205 ficaram feridas por projéteis sem origem definida.
Em janeiro, balas perdidas mataram três pessoas, segundo a estatística oficial, que será atualizada trimestralmente. Não foram divulgados balanço.