Mãe de João Hélio pediu duas vezes para soltá-lo do cinto

Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, Rosa Fernandes, mãe de João Hélio Fernandes, de 6 anos, disse que pediu duas vezes aos bandidos que roubaram seu Corsa, na quarta-feira à noite, no Rio de Janeiro, para que a deixassem soltar o menino do cinto de segurança do carro. Um dos dois ladrões a xingou: ?Não, sua vagabunda, anda logo.? E arrancou com o veículo, arrastando o menino por 7 quilômetros.

A entrevista de Rosa e do marido, Elson Vieites, foi exibida ontem à noite. A irmã de João, Aline, de 14 anos, não participou da entrevista, mas escreveu uma carta pedindo adesão a um abaixo-assinado pela redução da maioridade penal – um dos cinco acusados do crime tem 16 anos. A mãe reforçou o apelo por mudanças na lei, pedindo aos governantes que aprovem a ampliação do prazo de internação de jovens infratores, hoje de 3 anos, e permitam a Estados violentos como o Rio adotar leis próprias contra a criminalidade. Veja trechos da entrevista:

Desespero

Rosa: ?O sinal estava fechado, dois homens… eles correram e foram para cima dos carros. Na mesma hora que eles entraram nos carros, dois de trás já saíram armados para cima da gente. Aí eles falaram: "Sai, sai sua vagabunda, sai.? Eu pedi: "Deixa eu tirar meu filho, sai, Aline, sai, tira o seu irmão." Puxei ele. Eu falei: "O cinto está aqui, calma que eu vou tirar, calma, calma." Ele: "Não, sua vagabunda, anda logo." Bateu a porta e arrancou. Eu tentei levantar o cinto, mas não consegui, porque ele arrancou.

Reação

Rosa: ?Só quis o meu filho. Eu queria meu filho. Quando vi que ele foi arrastado, eu sabia que não tinha como corrigir àquilo, como livrar ele da morte.

Revolta

Rosa: ?Surge uma revolta, sim, porque vejo que não são todas as pessoas que têm uma alma boa, que têm amor no coração. Tem pessoas duras, que não têm coração, que têm uma pedra no lugar do coração.

João e Aline

Rosa: ?A Aline está péssima. Todos estamos péssimos. Ela está num momento assim, adolescente, e passou por um ato bárbaro. Ela viu como eu vi, o João sendo arrastado, e a gente não podia fazer nada. Não sei como que pode ficar a cabeça dela.

Rosa: ?João era uma criança alegre, brincalhona, falava muitas coisas engraçadas, a gente sempre ria. E agora… ficou um vazio. Na casa do meu cunhado tem crianças, ele tem 3 filhos. Eu fico pensando, meu menino aqui, brincando, cadê ele?

Mudança no País

Elson: ?Não queria que a morte dele ficasse em vão. Que tudo que vem acontecendo servisse para marcar uma fase de mudança no nosso País. As pessoas não podem sofrer como a gente está sofrendo.?

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