Para concluir, os exemplos de uma das mais expressivas figuras da medicina brasileira, o professor Heitor Annes Dias. Nascido em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, em 19 de julho de 1884, foi no Rio de Janeiro que desenvolveu a sua profícua atuação como cientista-pesquisador, médico e professor.
Elevou e honrou o conceito da medicina brasileira em centros europeus e na América Latina.
Teve uma vida muito curta. Faleceu em 1943, aos 59 anos de idade. Portanto, em pleno embalo de meritórias realizações. Sua filha, senhora Carmen, proferiu o seguinte lamento: ?E o fim chegou tão depressa, tão brusco, tão inesperado, tão cruel. Aos 59 anos, quando papai ainda tinha tanto que fazer!?.
Sua passagem para a verdadeira vida, foi na verdade ?uma subida nas asas dos grandes desejos?. Nesses momentos de grandes desafios à soberania da medicina em nosso País, soam muito oportunas as palavras de estímulo dirigida por Annes Dias aos doutorados, em 1924:
?Caridade! Eis a palavra sinônima de medicina, pois no exercício clínico o médico pratica a caridade de mil modos. Nem só o pobre a recebe, mas também o rico, porque a caridade não é só o pão que vai ao faminto ou a esmola para o desgraçado; a caridade é a solicitude em atender a qualquer hora quem, sofre; caridade é levantar-se altas horas da noite e ir, sob a chuva ou o frio, aliviar uma dor que desespera, ou consolar o aflito que geme; caridade é pronunciar uma palavra generosa, que restitui a tranqüilidade e a calma à alma que ansia; caridade é arriscar a vida em meio de epidemias; caridade é, com um raio de esperança, deter, por momentos, na ladeira da noite, a vida que se despenha; caridade é consumir o seu tempo, as suas energias, o seu espírito, no estudo e na atenuação dos males alheios; caridade é acompanhar, desde o berço, nas sendas da vida, um ente humano, apoiando-o quando claudica, ou consolando-o quando sofre; caridade é infundir no espírito do doente a confiança que consolida a fé e faz nascer à esperança; caridade é ter sua vida e sua atividade mais à disposição do próximo do que à sua própria e chegar ao fim da existência sem as compensações que tal atividade faria esperar; caridade é, pela palavra e pelo exemplo, fazer compreender os outros o caminho do bem; caridade é, além de suportar o próprio quinhão de atribuições que a cada um toca, ainda compartilhar do sofrimento alheio.
É esta uma profissão de fé que define a sua individualidade de eleito, o seu otimismo e a sua confiança nos homens e nos destinos eternos da medicina.
E complementou:
?Sabei-o bem, não é hoje o dia que marca o fim dos vossos estudos: o curso acadêmico que hoje acaba é apenas o prefácio destes. Cônscios do grande papel que ides representar na sociedade, haveis de começar agora a parte mais árdua de vossa carreira, a mais extenuante e de maior responsabilidade?.
Esta preciosa mensagem como parinfo, em 1924, é perfeitamente válida para quantos abraçam a profissão médica. Que todos os médicos façam uso do imenso potencial que tem em suas mãos: o amor fraterno, chave segura do sucesso. Amparando aos irmãos que sofrem e que imploram ajuda, ?carregaremos nossas baterias? com a força insuperável do amor, que nos permitirá mudar mentalidades e transformar a realidade opressora, que castiga usuários e prestadores de serviços de assistência à saúde.
Eis a poderosa forca do médico: O AMOR!
Ary de Christan – Membro fundador da Academia Paranaense de Medicina